Podemos melhorar a saúde mental mudando a alimentação?
Outubro é o mês escolhido para assinalar o Dia da Saúde Mental (10 de outubro) e o Dia Mundial da Alimentação (16 de outubro). Que belo mote para falarmos de ambas e da relação que as une, mas que muitas vezes se torna fraturante e disruptiva.
É conhecida a importância de adotarmos estilos de vida saudáveis, onde incluímos obrigatoriamente a alimentação, acerca da qual muito se tem falado a propósito da sua relação, tanto com a saúde física, como com a saúde mental. O ser humano deve ser olhado como um todo, onde o equilíbrio físico e mental é cada vez mais uma preocupação primordial.
A saúde física não existe sem a saúde mental e vice-versa, o que nos coloca enormes desafios enquanto sociedade e enquanto indivíduos.
A investigação tem demonstrado, ao longo dos anos, como determinados alimentos se relacionam com sintomas de ansiedade e até depressivos, sugerindo a adoção de uma alimentação equilibrada como adjuvante aos tratamentos farmacológicos e psicológicos, contribuindo para a sensação de bem-estar global.
Por outro lado, não raras vezes a alimentação deteriora-se quando a saúde mental se encontra comprometida e, em casos mais graves, as alterações aos padrões alimentares chegam mesmo a representar um sintoma de doença mental e uma relação disfuncional com a comida, que encerra em si significados profundos das vivências emocionais do ser humano.
Perturbações alimentares associadas à saúde mental
Vejamos os casos das perturbações alimentares (anorexia, bulimia, ortorexia e outros), onde a relação desenvolvida com a comida se torna consideravelmente perigosa, colocando em risco a saúde física e, em alguns casos, a própria vida.
No caso da ortorexia, assistimos ao desenvolvimento de uma obsessão pelo consumo de alimentos saudáveis, gerando-se um sofrimento interno elevado quando tal não é possível ou sempre que um “deslize “ocorre, entrando-se num tão elevado grau de inflexibilidade e rigidez que o desfecho pode ser uma disfuncionalidade social e isolamento.
Por seu lado, nos casos da anorexia e da bulimia, continuamos a observar uma relação difícil com a alimentação, a qual traduz o elevado sofrimento em que a pessoa vive, a ambivalência, a perceção de si própria como pouco válida, entre outros.
A importância da relação com os alimentos
Costuma dizer-se que, tudo o que é rígido quebra, isto é, precisamos sempre de um grau de flexibilidade para que alcancemos o equilíbrio, caso contrário, acabaremos por quebrar começando a estabelecer relações difíceis com a alimentação, que em muito ultrapassam a relação com a comida e muito dizem sobre a relação connosco próprios e com o mundo.
Os últimos tempos têm-nos mostrado a importância da saúde mental, de cuidarmos dela e de a promovermos e temos cada vez mais a consciência de que a alimentação e a adoção de estilos de vida saudáveis são dois grandes aliados.
Mas, é importante alertar que a relação que desenvolvemos com a alimentação deve ser flexível e equilibrada, sob pena de, ao invés de termos uma adjuvante à saúde mental, termos mais um fator gerador de stress, de disrupção e que, em última instância, nos causará dano emocional e físico e poderá conduzir ao isolamento e ao comprometimento das relações sociais.
É importante, então, potenciarmos o nosso bem-estar, mas com o devido equilíbrio, sem obsessões, sem ideias de perfeição e com margem para expressarmos a nossa essência enquanto seres humanos que falham e erram.
Não nos tornemos reféns de conceitos de perfeição desajustados, sobretudo quando o que queremos alcançar é o bem-estar e a saúde mental e, neste espectro, as ideias de perfeição podem ser muito prejudiciais.
Aceitemo-nos como seres imperfeitos e procuremos apenas o equilíbrio e fazermos o nosso melhor.