Diminuir o consumo de carne é um dos temas na ordem do dia. As notícias sobre o estado climatérico do planeta são alarmantes e pedem alternativas sustentáveis que não só fazem bem ao planeta, como à nossa saúde.
Com cada vez mais adeptos, esta é uma tendência em crescimento, com a revista financeira The Economist a declarar 2019 como o ano do veganismo.
Mas, afinal, o que é o veganismo?
O veganismo é um estilo de vida que exclui todas as formas de exploração e crueldade animal para fins de consumo humano.
Segundo a organização internacional Vegan Society, existem “várias maneiras de adotar o veganismo, mas aquilo que todos os veganos tem em comum é uma dieta à base de plantas que evita produtos de origem animal como a carne, peixe, marisco, lacticínios, ovos e mel. Para além disso, evita-se também materiais de origem animal, produtos testados em animais e o seu uso como forma de entretenimento”.
Emanuel Castelo e Francisco Regel, cofundadores da plataforma digital Simplesmente Vegan, renderam-se ao veganismo há cerca de dois anos. “A partir do momento em que percebemos quais eram as normas da pecuária pelo mundo fora e fizemos a ligação entre o que estava no nosso prato e o animal, deixou de ser possível continuar numa dieta omnívora“, conta Emanuel Castelo à Saber Viver.
“Fica difícil dizermos que gostamos de animais quando temos um no nosso prato a cada refeição. Obviamente, a isto acrescentaram-se as preocupações ambientais e de saúde.”
Na conta de Instagram, que já tem quase 10 mil seguidores, desmistificam verdades e mentiras acerca do veganismo e promovem um estilo de vida mais saudável à base de plantas.
Os benefícios e os riscos
Os défices nutricionais são o principal risco aliado a uma dieta à base de plantas. “Devemos ter uma alimentação bem planeada e estruturada, de modo a oferecermos ao nosso corpo todos os nutrientes de que necessita”, explica Francisco Regel, que é também médico interno de formação geral.
“O segredo é variar, mas não precisamos de contar e pesar tudo que comemos. Basta termos uma alimentação variada e diversificada para atingirmos os valores necessários de cada micro e macronutriente”.
Mas apesar da atenção nutricional que o veganismo requer, os benefícios para a saúde são mais que muitos. A Vegan Society aponta que pesquisas científicas “associam a dieta vegana a uma diminuição do colesterol e da pressão arterial e à diminuição de doenças cardíacas, diabetes tipo dois e alguns tipos de cancro”.
A organização relembra ainda que “podemos comer uma dieta totalmente feita à base de plantas que beneficia a saúde, ajuda os animais e protege o planeta”.
Os mitos
Se quer eliminar os produtos de origem animal da sua dieta, mas ainda tem algumas reservas, fique a conhecer cinco dos mitos mais comuns acerca do veganismo, explicados pelo médico Francisco Regel.
1. Os vegans têm défice de proteína
“A verdade, é que não existe a preocupação sobre défice de proteínas numa dieta não vegan, por isso não é compreensível que esta surja quando se fala em veganismo. Temos dezenas de alimentos ricos em proteínas que incluímos na nossa dieta diariamente, que satisfazem as nossas necessidades sem qualquer problema.
Uma pessoa precisa de 1kg/dia (de 1.4 a 2.2, se o objetivo for ganhar massa muscular) e esse valor consegue-se atingir muito facilmente numa dieta vegana no dia a dia. ”
2. A soja aumenta o risco de cancro
“Muita gente fala da ligação da soja com os cancros chamados hormono-dependentes, que têm ligação com os níveis de estrogénio, como é o caso do cancro da mama, útero e próstata.
Esta dúvida surge, pois, um dos componentes da soja são os fito-estrogénios. Podem ter nomes semelhantes e serem da mesma família de hormonas, mas têm uma atividade muito diferente. Os fito-estrogénios têm 10 mil vezes menos ação que o estrogénio e acabam mesmo por modelar os recetores de estrogénio. O que é que isto quer dizer? Que os recetores de estrogénio ficam ocupados com o fito-estrogénio e impedem que o estrogénio se ligue.
Portanto, a soja tem mesmo um efeito protetor em relação a estes tumores. Além de não provocar cancro, a soja é rica em proteína, cálcio, potássio, ferro e magnésio. É por isso muito boa para o nosso organismo.”
3. A dieta à base de plantas não é natural, porque precisamos de suplementos
“Sim, é verdade que precisamos de suplementos numa dieta à base de plantas. Um essencial, na verdade: vitamina B12. Mas não quer dizer que seja uma dieta errada. A vitamina B12 é essencial para a formação de glóbulos vermelhos e é produzida por bactérias, no solo ou ainda na flora intestinal dos animais.
No ser humano, há produção pelas bactérias do colón, mas esta não é absorvida porque é produzida numa zona mais distal do intestino e os próprios animais não conseguem absorver grande quantidade.
Então, como é que conseguimos B12 ao comer carne? Porque os animais são suplementados! Vitamina B12 era encontrada no solo e vegetais em grandes quantidades no passado, mas com o aumento da higienização e produção em massa, os níveis de vitamina B12 decresceram. E assim, a sua ingestão através de uma alimentação vegan é baixa e então é necessário suplementar.
É aconselhável a suplementação de 200mcg por dia.”
4. Não é adequado para grávidas e crianças
“Os estudos desenvolvidos nesta área mostram que é perfeitamente possível uma grávida seguir uma alimentação à base de plantas, assim como bebés e crianças. A diferença é que a dieta deve ser estritamente controlada, para garantir que não há falta de nenhum nutriente essencial e que as recomendações diárias são cumpridas.
Além disto, deve haver um acompanhamento médico regular, para garantir que tudo está a correr bem. A Direção Geral de Saúde já emitiu normas sobre a alimentação vegan em grávidas e crianças e diz ser segura, desde que haja um controlo.”
5. O leite é uma fonte de cálcio essencial
“É verdade que o leite é rico em cálcio, essencial sem dúvida. Mas para os bezerros crescerem saudáveis. Nós não precisamos de leite animal. Hoje em dia, há tanta variedade de leites vegetais, todos eles fortificados com cálcio, com os mais variados sabores e texturas.
Além do leite vegetal, há ainda uma serie de alimentos ricos em cálcio que podemos incluir na nossa dieta”.
Fontes: The Economist; Vegan Society
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