Nutrição

Vegetarianismo e veganismo: os prós e contras destes regimes alimentares

O vegetarianismo e o veganismo estão na moda. Mas será que vieram para ficar? Tire todas as dúvidas com a ajuda de quatro especialistas em estilo de vida “verde” e saiba quais as vantagens e desvantagens destas dietas.

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Vegetarianismo e veganismo: os prós e contras destes regimes alimentares Vegetarianismo e veganismo: os prós e contras destes regimes alimentares
© Unsplash
Filipa Basílio da Silva
Escrito por
Mai. 01, 2020

Mais de 375 milhões de pessoas em todo o mundo são vegetarianas ou vegan. No entanto, a maioria dos indivíduos fá-lo por crenças religiosas.

Ainda é diminuta a percentagem de ocidentais que adotaram um estilo de vida em que a carne, o peixe e o marisco não têm lugar no prato, e menos ainda serão aqueles que rejeitaram todos os produtos de origem animal.

Os europeus e norte-americanos que se tornaram vegetarianos ou vegan, fizeram-no por questões de saúde e bem-estar, mas também por razões éticas e ecológicas. E tudo indica que o seu número possa estar a aumentar.

Embora apenas 4% da população, nos E.U.A. tenha adotado uma alimentação à base de vegetais, a procura por produtos vegan é crescente. Na Alemanha, entre 2011 e 2015, a percentagem de restaurantes que segue o vegetarianismo ou veganismo aumentou 10% e 8%, respetivamente (dados da Mintel).

Talvez a tendência esteja de alguma forma relacionada com o pedido da Organização das Nações Unidas, que, em 2010, incentivou o mundo a reduzir drasticamente ou a eliminar o consumo de produtos de origem animal − principalmente a carne e os lacticínios.

Dietas à base de vegetais

Antes de avançarmos mais, pedimos a Ana Rita Lopes, coordenadora da Unidade de Nutrição Clínica do Hospital Lusíadas Lisboa, para esclarecer a diferença entre os dois tipos de alimentação.

A especialista explica que, ao passo que “a dieta vegan é exclusivamente de origem vegetal, a vegetariana pode incluir alguns alimentos de origem animal, como os ovos e os lacticínios”.

De acordo com a nutricionista, quer o veganismo quer o vegetarianismo são indicados para todas as pessoas, incluindo crianças, grávidas e desportistas, “quando a dieta é bem planeada e a pessoa tem o devido acompanhamento nutricional”, frisa. Porém, não é por se alimentarem à base de vegetais que são mais saudáveis.

A nutricionista ressalva que, “muitas vezes, os pratos vegetarianos são mais ricos em hidratos de carbono e/ou gordura, de modo a melhorar a sua palatibilidade”. No livro Mude de Alimentação (2015), Henri Joyeux, um conhecido médico-cirurgião francês, alerta que “o regime vegan é perigoso, porque se baseia exclusivamente em produtos vegetais”.

84% dos vegetarianos e veganos desistem dessas dietas ao fim de algum tempo e voltam a comer carne

De facto, o vegetarianismo e o veganismo têm feito correr muita tinta. Terão estas dietas ganho raízes nas sociedades ocidentais? Uns números indicam que sim, outros revelam que não são estilos de vida sustentáveis a longo-prazo.

Um estudo do Humane Research Council revelou que, nos E.U.A., 84% dos vegetarianos e veganos desistem dessas dietas ao fim de algum tempo e voltam a comer carne.

Todavia, são publicados cada vez mais livros de culinária com receitas verdes saborosas e que tornam estes tipos de alimentação exequíveis a longo-prazo.

Conversámos com três autoras nacionais, Magda Roma, Gabriela Oliveira e Carina Barbosa, que fizeram a transição para uma dieta que dizem ser mais ética, nutritiva e sustentável. Deixe-se inspirar pelos seus testemunhos.

Vegetarianismo restrito

Magda Roma é a autora do blogue homónimo e de O Livro das Receitas Vegan. A nutricionista contou à Saber Viver que, ainda que só recentemente tenha optado por uma orientação alimentar vegan, deixar de consumir produtos de origem animal foi um processo gradual: “Sou alérgica aos ovos, não consumo lácteos desde os 8 anos, nem carnes vermelhas desde os 10, e deixei de comer peixe e frango há cerca de dois anos”.

Descubra por que se tornou vegan e como consegue manter esta dieta.

Por que decidiu mudar a sua alimentação?
Após estudar todos os prós e contras da alimentação convencional, percebi que a dieta vegetariana estrita/vegan é a via mais saudável para mim.

Em que alimentos não toca (para além dos de origem animal)?
Eliminei os açúcares simples e evito o glúten.

Como descreveria as suas receitas?
Explosão de cor e sabor, duas características que a maioria das pessoas não atribui à alimentação vegana. Sou capaz de não repetir um único prato, mensalmente.

Quais são os utensílios sem os quais não pode passar?
Uma centrifugadora lenta  para os sumos e bebidas vegetais, uma iogurteira para fazer os iogurtes isentos de leite, uma trituradora e um wok.

Lista de compras: os alimentos não podem faltar na despensa e frigorífico de Magda Roma.

Leguminosas (ervilha, lentilha, feijões, grão);
Cereais (quinoa, trigo sarraceno, aveia, millet, couscous);
Biovivos (erva de trigo, brotos de ervilha, brotos de sementes de girassol);
Superalimentos (spirulina, clorela, cânhamo, maca, baobab, moringa, clorofila);
Sementes (girassol, chia, papoila, mostarda, linhaça);
Vegetais;
Legumes;
Frutas.

Veganismo ativista

Formada em engenharia informática, foi num curso de jornalismo que Carina Barbosa teve contacto, pela primeira vez, com o vegetarianismo. Nesse seguimento, tornou-se vegan e, pouco tempo depois, inaugurou o blogue de culinária Veggitable.

Conversámos com Carina sobre os motivos que a fizeram adotar um estilo de vida vegan e sobre o seu primeiro livro, Cozinha 100% Vegetal e Saudável.

Por que decidiu mudar a sua alimentação?
Foi por uma questão de ética e de amor por todos os animais, que são seres vivos e sencientes.

Quando passou a ser vegan?
Em 2013, depois de 11 anos sem consumir carne. Passei a comprar tudo de origem vegetal e desfiz-me de algumas peças de roupa e de maquilhagem.

O veganismo é indicado para todas as pessoas, incluindo crianças, grávidas e desportistas?
Sim, o consumo de produtos de origem animal provoca mais doenças a curto e longo prazo, afetando também os bebés e as crianças. Os idosos frequentemente apresentam falta de cálcio, doenças cardiovasculares, oncológicas, diabetes, obesidade, entre outras, que poderiam ser evitadas se a alimentação fosse vegetariana restrita.

Como descreveria as suas receitas?
Muito simples e rápidas de preparar. Têm imensa cor e variedade de alimentos para que possam existir todos os nutrientes e vitaminas necessários a uma boa alimentação. Os ingredientes encontram-se facilmente em supermercados.

Quais são os utensílios sem os quais não pode passar?
Um robot de cozinha, uma espátula, taças, colheres medidoras e uma boa faca.

Em que alimentos não toca (além dos de origem animal)?
Alimentos muito processados, com conservantes ou enlatados.

Quais são os seus ingredientes favoritos?
Adoro banana, abacate e sementes de chia, por serem muito versáteis.

Vocabulário

Vegan: é um estilo de vida e alguém que não consome ou utiliza qualquer produto de origem animal.

Ovo-lacto-vegetariano: consome vegetais, ovos e leite.

Ovo-vegetariano: come somente vegetais e ovos.

Lacto-vegetariano: ingere apenas vegetais e leite.

Vegetariano: pode usar vestuário, maquilhagem e tomar medicação de origem animal, ou que tenham sido testados em animais.

Dieta Sustentável

Gabriela Oliveira é autora de Cozinha Vegetariana para Bebés e Crianças (2016), Cozinha Vegetariana para quem quer ser saudável (2015) e Cozinha Vegetariana para quem quer poupar (2014), e do seu site homónimo. Tornou-se vegetariana há quase duas décadas, inspirada pelo exemplo de um amigo.

Hoje em dia faz uma alimentação vegan, não tocando em “carne, peixe, ovos, leite, queijo, nem nenhum alimento de origem animal”. Para Gabriela, os livros são o seu “contributo para a divulgação de uma forma de vida mais saudável, ética e sustentável”.

Por que decidiu mudar a sua alimentação?
Por ter a noção de que podemos viver bem, com saúde e prazer, sem precisar de causar a morte e o sofrimento aos animais. Essa foi a principal razão que me levou a mudar. Mas a alimentação vegetariana pode ser mais ecológica e eficiente, ao poupar os recursos naturais e evitar a tremenda poluição da indústria agropecuária.

Do seu ponto de vista, o vegetarianismo é indicado para todas as pessoas, incluindo grávidas e desportistas?
Uma alimentação 100% vegetariana pode ser completa, variada e equilibrada, e fornecer todos os nutrientes de que precisamos nas diferentes etapas ao longo da vida.

Esta noção é corroborada pelas principais associações internacionais de dietética. Contudo, é necessário ter alguns cuidados, nomeadamente na escolha dos alimentos (alguns, enriquecidos) e na forma como os combinamos, de forma a evitar possíveis carências, nomeadamente de ferro e de vitamina B12.

Como descreveria as suas receitas?
Sou adepta da culinária simplificada, acessível a qualquer pessoa, e que conquiste pelo sabor e pela boa apresentação. As minhas receitas são sempre vegan, 100% de origem vegetal, muitas isentas de glúten, também a pensar nas pessoas com intolerâncias e alergias alimentares.

Quais são os seus ingredientes favoritos?
Gosto muito de açafrão-das-índias e gengibre, de manjericão, coentros e de frutos secos.

Quais são os utensílios sem os quais não pode passar?
Não abdico da minha faca de corte e de uma boa vara de arames.

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