Quer poupar e investir, mas não sabe por onde começar? Veja estas dicas
Um economista e um educador financeiro partilham, de forma simples, o que precisa de saber sobre como poupar e investir.
Cada vez que olhamos para o nosso extrato bancário, a vontade de entrar num foguetão e voar para um qualquer outro planeta cresce (curiosamente, na direção contrária à do dinheiro na conta).
No entanto, não podemos comprar bilhete para essa viagem. Por isso, com os pés na terra, devemos pensar numa alternativa: poupar.
Sim, apesar de difícil – ou quase impossível – para muitos, dadas as circunstâncias atuais, é com este verbo que conseguimos fazer esticar o salário que nos chega todos os meses à conta.
Para o facilitar, pedimos que um economista e um educador financeiro nos dessem algumas dicas para poupar e tornar o ordenado aparentemente maior do que realmente é, além de sugestões para organizar o dinheiro a dois.
Como olhar para as finanças em casal
Afinal, ainda que, numa fase inicial da relação, muitos casais acreditem que o amor é mais importante que o dinheiro, a médio ou longo prazo, não é suficiente. Aliás, não é por acaso que os problemas financeiros são uma das maiores causas de separação, em Portugal.
Deste modo, para evitar conflitos, “é imperativo que qualquer casal fale abertamente sobre dinheiro e que defina valores e objetivos em comum”, salienta Pedro Santos, educador financeiro e criador do Ser Riquinho.
Contudo, não existe uma fórmula mágica para a organização financeira em casal. “Deve ser feita da forma como se sintam melhor”, avança. Isso significa que:
• Cada um pode ter a sua própria conta;
• Podem ter uma conta conjunta para os gastos comuns;
• Ter uma conta única para o casal, em que entram todos os rendimentos e saem todos os gastos, é também uma opção.
“Não há uma forma correta para todos os casais”, completa. Porém, avisa: “Caso se opte por ter contas separadas, deve-se sempre ter em atenção para não estrangular financeiramente nenhum membro do casal. O ideal é que os gastos comuns sejam divididos de forma proporcional aos rendimentos de cada um”.
Como poupar
Independentemente da decisão tomada, esteja numa relação ou não, poupar é meio caminho andado para se sentir mais leve quando pensa em dinheiro. Mas como o podemos fazer?
Ter objetivos concretos
O primeiro passo é “estabelecer metas quantificadas e com prazos para a poupança”, esclarece Pedro Braz Teixeira, economista.
Por exemplo, defina que, até ao fim de 2025, irá conseguir 10% do valor de uma determinada habitação para dar como entrada. Ou, até junho de 2024, terá 2.000 euros na conta para concretizar o sonho de viajar até Nova Iorque, pelo Natal, durante duas semanas.
Assim que tiver em mente um objetivo, estará mais predisposta a colocar dinheiro de lado, em vez de comprar aquela peça de roupa que vai vestir apenas uma ou duas vezes.
Colocar o dinheiro poupado à parte
Pedro Braz Teixeira sugere “criar uma conta separada para onde retira a poupança mensal estipulada, mal receba o ordenado”.
Deste modo, como não tem o dinheiro na conta corrente, “é como se não existisse” e, por isso, a probabilidade de nem se lembrar que tem mais dinheiro que poderia gastar em algo eventualmente desnecessário é grande.
“Se o deixar na conta corrente até ao final do mês, será mais difícil resistir a tentações e mais improvável que consiga cumprir a meta de poupança”, destaca.
Como fazer o dinheiro esticar (também conhecido como “investir”)
Apesar de poupar ser importante para ter uma maior margem de manobra quando um imprevisto acontece, “para um futuro mais confortável e próspero, o ideal é que comece a investir o seu dinheiro o mais cedo possível”, aconselha Pedro Santos.
É assim que, ao fim de, por exemplo, 5 anos, pode ter 1.000 ou 5.000 euros. E, claro, a longo prazo, a diferença será ainda maior, caso comece a investir aos 25 ou aos 35 anos.
Definir uma estratégia é o primeiro passo que deve tomar, depois de responder a duas perguntas:
• Qual a minha capacidade de lidar com o risco?
• Daqui a quanto tempo é que está a pensar usar a poupança?
Com as respostas vai conseguir traçar um plano, de acordo com a sua realidade.
“Se fica muito nervosa com a possibilidade de sofrer qualquer perda, fique-se pelos depósitos bancários, certificados de aforro e, talvez, por fundos de obrigações (mas cuidado com as comissões de transação)”, declara Pedro Braz Teixeira.
Já se “se sente confortável em correr alguns riscos e só vai utilizar as poupanças daqui a alguns anos, poderá arriscar em fundos de ações ou mesmo em ações específicas, inclusivamente de empresas estrangeiras”, adiciona.
Em cashback dos cartões de crédito
Caso se esteja a perguntar sobre o que significa “cashback”, explicamos-lhe sem mais demoras. “É a devolução de parte do valor das compras feitas com o cartão”, clarifica a mente por trás do Ser Riquinho.
Por norma, adianta “varia entre 1% e 3%”. Ou seja, alguém que tenha “200€ de gastos mensais e utiliza um cartão de crédito com cashback de 3% para os pagar, no final do ano, terá mais 72€ para juntar ao que já poupou”, explica.
“O ideal é optar por um cartão sem anuidades e pagar sempre a utilização do cartão a 100% para não serem cobrados juros”, adiciona.
Em certificados de aforro
Recentemente, não se falava de mais nada se não de certificados de aforro. Havia quase uma corrida a esta forma de investimento, sem grandes riscos, uma vez que, no fundo, é um empréstimo ao Estado Português. Ou seja, apenas se entrarmos em bancarrota é que poderemos perder este dinheiro.
Dadas as suas vantagens e segurança, é considerado dos melhores investimentos a fazer. O maior inconveniente – se assim o vir -, é a impossibilidade de levar o dinheiro que colocou nos certificados de aforro durante um período de três meses. Porém, depois desse tempo, pode fazê-lo a qualquer momento.
Atualmente, “a taxa base bruta está em 2,5%, que descontando os 28% de imposto, dá uma taxa líquida de 1,8%”, nota Pedro Santos. Traduzindo por miúdos: Se poupar 5.000€ durante um ano e decidir investi-los nos certificados de aforro, ao fim de um ano – caso a taxa, que depende da Euribor, se mantenha no teto máximo de 2,5% -, terá ganho um extra de 67,80€, sem fazer nada.
Em ações
Para quem se sente confortável em correr alguns riscos enquanto investe, pode colocar em cima da mesa as ações como opção.
O criador da Ser Riquinho reconhece que “ações mais consolidadas, como a Coca-Cola, Pepsi, Starbucks, McDonald’s ou Colgate são conhecidas por pagar bons dividendos há já várias décadas seguidas”.
Já Pedro Braz Teixeira lembra que, “se trabalhar nas áreas tecnológicas poderá querer experimentar comprar ações de líderes mundiais, cuja evolução até acompanham regularmente”.
Nesses casos, sugere começar “por ver o que aconteceu às cotações nos últimos anos e avaliar se estaria disposta a sofrer algumas das perdas passadas. Se se sentir motivada, entre lentamente e invista em várias empresas e setores sobre as quais está previamente informada, não colocando todos os ovos no mesmo cesto”.
Salienta ainda que “é importante ir acompanhando as notícias que vão saindo sobre o alvo das aplicações, para decidir se é o momento de sair, manter ou reforçar os investimentos”.
Contudo, não se deve assustar mal veja um movimento decrescente no gráfico. Este deve ser um investimento a longo prazo, pelo que vão existir subidas e descidas com o passar do tempo.
Acumulação de património
Há também outro caminho que envolve a acumulação de património. Para isso, deve criar “um portfólio diversificado por várias classes de ativos, geografias, setores e níveis de risco, de forma a proteger-se de todos os ciclos económicos e multiplicar o seu capital ao longo do tempo”, nota Pedro Santos.
REIT’s
Conhecido “pelos bons dividendos que distribui aos seus investidores”, são os REIT’s, sigla para Real Estate Investment Trust, traduzido livremente como fundos de investimento imobiliário.
Mas o que são? “Um REIT é uma empresa que se dedica ao investimento imobiliário e que gera capital através do recebimento de rendas mensais”, esclarece o educador financeiro.
“É uma forma de ter exposição ao mercado imobiliário, através da bolsa de valores, a troco de poucos custos, nenhumas chatices com burocracias ou inquilinos e ainda receber altos dividendos por isso”, acrescenta.
Porém, uma vez que está diretamente ligada ao mercado, caso haja uma queda, o seu retorno será afetado, o que não aconteceria se gerisse diretamente uma propriedade.
A importância de ter um fundo de emergência
Tal como os artistas de circo têm uma rede de segurança, quando saltam de grandes alturas, para amparar possíveis quedas, é crucial termos um fundo de emergência nos tempos de incerteza que correm.
Deste modo, caso surja uma situação excecional, como uma avaria no carro ou uma consulta com a qual não estava a contar, não precisará de ficar, ansiosa, a fazer a contagem decrescente até ao próximo ordenado.
Este fundo de emergência não é mais que uma almofada para lidar com algum imprevisto e, por isso, não lhe deve tocar a não ser num desses casos.
O valor recomendado para este “pé de meia” é de seis vezes o valor das suas despesas mensais. Assim, se, por mês, gastar 1.000€, deve ter de lado 6.000€.
Sem dívidas
Claro que ninguém quer ter dívidas, mas maior parte de nós não consegue comprar, por exemplo, uma casa sem pedir um empréstimo ao banco.
Todavia, segundo Pedro Santos, “a única dívida que alguém deve contrair é o crédito à habitação”. “Fora isso, qualquer gasto maior deve ser preparado com antecedência e ser pago inteiramente com fundos próprios.
Assim, sugere que prefira um carro em segunda mão ou de serviço, caso não tenha capacidade financeira para comprar um novo.
Crédito à habitação
Habitualmente, quem contrai um crédito à habitação, fica anos a pagar o empréstimo ao banco. Porém, “para não ficar com essa dívida às costas durante décadas a fio, pode-se ir fazendo amortizações antecipadas”, avisa o homem ao leme do Ser Riquinho.
“Quando se paga uma prestação, nos primeiros anos, cerca de 70% do valor vai para juros e apenas 30% é que vai abater o valor da dívida. Só que, quando se faz uma amortização, o valor vai inteiramente ser abatido ao capital em dívida. É, portanto, uma forma de pagar o crédito habitação em muito menos do que o tempo previsto”, clarifica.
Desta forma, “quando comprar casa, em vez de escolher uma prestação até ao limite do que pode pagar atualmente, será preferível deixar uma margem”, afirma. Assim, “se a prestação subir, tem capacidade de a pagar e se não subir tanto, poderá poupar a folga, podendo fazer amortizações antecipadas do crédito”.