Como poupar dinheiro todos os meses? 21 dicas práticas para aplicar todos os dias
É o drama da maioria das famílias portuguesas e dos jovens que querem começar uma vida fora da casa dos pais. A tarefa é complicada, mas não é impossível. Saiba como poupar dinheiro ao longo do mês com estas dicas práticas.
O ritual das mesadas aos mais jovens surgiu com uma finalidade: ensinar os miúdos (a caminho da vida adulta) a gerir o seu dinheiro. A regra é básica, mas na prática chegamos quase sempre à mesma conclusão. Poupar é difícil quando queremos ter o mundo a nossos pés. A realidade é dura, mas é tudo uma questão de ter boas bases para saber o que fazer com o dinheiro.
“A poupança é essencial para fazer face aos imprevistos da vida e para concretizar sonhos, são essas as suas duas grandes funções. Mas poupar sempre, com regularidade é o que nos permite viver abaixo dos nossos rendimentos e, quando é possível fazê-lo, viver abaixo dos nossos rendimentos é o que nos traz desafogo financeiro!” diz-nos Susana Albuquerque, coach financeira e especialista em educação financeira.
Não cair em dívidas infinitas e manter o saldo bancário não muito abaixo da média é um desafio, mas não é impossível. Pedimos ajuda à especialista para nos dar algumas sugestões para poupar dinheiro todos os meses.
Não sabe como poupar dinheiro mensalmente? Siga estas 21 dicas
Saúde e bem-estar
1. É fumadora? Se a resposta é afirmativa, então esta sugestão é para si. “Um maço de tabaco custa cerca de 4€. Se fumar quatro maços por semana, poupará 64€ por mês e 768€ por ano se deixar de fumar“, aconselha Susana Albuquerque.
2. “A mensalidade do ginásio custa cerca de 40€. Se optar por fazer exercício ao ar livre não paga nada e ainda poupa 480€ por ano.”
3. “Optar por medicamentos genéricos permite poupar entre 20 a 35% face ao medicamento de referência (fonte: INFARMED). O que significa que se por ano gasta 400€ em medicamentos, estará a poupar entre 80€ e 140€ por ano ao escolher genéricos.”
4. Comparar preços é sempre boa ideia! “Os medicamentos não sujeitos a receita médica podem ter diferenças de preços substanciais entre estabelecimentos. Numa lata de leite, a diferença pode ser de 2€.”
5. Arranja as unhas num centro estético? Pense suas vezes. “Ir à manicure custa, em média, 5€. Se for semanalmente, no final do ano gasta 1040€. Se optar por fazer em casa, e partindo do pressuposto que gasta 40€ em consumíveis (verniz, acetona, algodão) por ano, ainda poupa 1000€.”
Viagens
6. Quer viajar, mas não sabe como poupar dinheiro durante o ano? Susana Albuquerque explica: “Viajar em época baixa pode resultar numa poupança de 30% face aos preços praticados em época alta.”
7. “As feiras de viagens (compra antecipada) e as oportunidades last-minute permitem comprar muitas vezes com descontos na ordem dos 50%.”
8. Ir de férias e não pagar 1€ pelo alojamento parece estranho, certo? Mas é possível. “Visite os sites de troca de casa Troca Casa, Guest to Guest e Home Away e economize valores entre 250€ e 2000€.”
Compras
9. “Leve sempre o saco reciclado: de cada vez que se esquece do saco plástico, são 0.10€. Se for 3 vezes por semana ao supermercado e tiver de comprar três sacos, no final do ano gasta 15,60€”.
10. Faça um cartão de cliente em cada supermercado. Os benefícios são mais que muitos. “Os cartões de cliente oferecem-nos facilmente descontos que podem chegar aos 50% em determinados produtos”.
11. “Ir às compras com fome poderá aumentar em 17% (pelo menos) a fatura do supermercado.”
12. Não sabe como equilibrar a lista de compras? “Se fizer a ementa semanal olhando para o que tem em casa e se com base nisso fizer a lista de compras de supermercado, poupará entre 10 a 20% por semana em compras. Se gastar em média 50€ por semana, poupará 20€ por mês e 240€ por ano!”
13. Saldos? Sim! “Comprar em saldos permite poupanças que podem chegar aos 70% e, nalguns casos, até mais. Desde que compre coisas de que realmente precisa, senão os saldos são apenas uma oportunidade para gastar mais a comprar coisas de que realmente não precisa!”
Aqui encontra ainda mais dicas sobre como gastar menos nas compras de supermercado.
Transportes
14. “A escolha pela bomba de combustível com os preços mais baixos pode valer 15€ num depósito de 60 litros (face à bomba com preços mais elevados). Se atestar o depósito duas vezes por mês, no final do ano poupará 360€. “
15. Os transportes públicos podem ser uma boa opção. “No percurso Lisboa-Sintra (60 quilómetros diários), é possível poupar 155€ face à deslocação num carro a gasolina.”
Produtos financeiros
16. “Uma análise de todas as apólices de seguro pode demonstrar duplicação de coberturas, pelo que uma análise a todos os contratos e a renegociação com as seguradoras podem valer uma poupança de dezenas ou centenas de euros por ano.”
17. “É possível poupar dezenas de euros por ano nas comissões das contas e anuidades dos cartões. Uma das opções é domiciliar o ordenado. Mas há outras e a mudança é gratuita. O mais importante é comparar os preços das comissões que paga com as que são cobradas por outros bancos.”
Em casa e no trabalho
18. Mude as lâmpadas da sua casa. É mais importante do que pensa. “As lâmpadas economizadoras permitem poupar até 80% no consumo de eletricidade. Numa fatura mensal de 40€, poderá poupar entre 20€ a 30€ o que significa que num ano poderá poupar entre 240€ e 360€!”
19. Come fora todos os dias? É possível poupar, sim. “Quem tem de almoçar fora pode contar, em média, com uma fatura de 10€ por dia. Se optar por solicitar a uma empresa especializada no envio de refeições aos locais de trabalho (caso essa oferta esteja disponível na zona onde trabalha), consegue almoçar por cerca de 5€, o que lhe permite poupar 50% desse valor, ou seja 110€ por mês e 1320€ por ano.”
20. “Se levar uma vez por semana a marmita para o trabalho, e partindo do princípio que gasta 2€ no prato que leva e que uma refeição fora custa 10€, ao final de um ano poupa mais de 2000€.”
21. O pequeno-almoço em casa é muito mais vantajoso. “Um copo de leite e um pão com manteiga custam, no final do mês, cerca de 9€. Se optar por um café e um bolo, no café gastará cerca de 50€ no final do mês.”
Como poupar dinheiro: a regra de ouro
Nunca a frase “chapa ganha, chapa gasta” foi tão desadequada como nos dias de hoje. Fazer uma boa gestão do dinheiro é vantajoso para si, para a sua família e para a conta bancária que deixa de diminuir cada vez que retira o estrato bancário.
A coach financeira dá-nos uma regra essencial para quem quer começar a poupar: “A poupança deve ser feita à cabeça, de forma automatizada e com base num montante fixo ou percentagem do que ganha.”
É fácil. Segundo Susana Albuquerque, “deve ser definido um montante para esta rubrica e, no início de cada mês, com base numa ordem de transferência automática, esse mesmo valor é logo colocado de parte numa conta poupança ou num outro tipo de aforro”. Além disto, deve ter em conta que é sempre importante ter uma rede de segurança, chamada também de “almofada financeira”, no caso de haver algum imprevisto.
“Idealmente este montante deverá corresponder a seis meses de ordenado/rendimento. E a partir desse montante, pode poupar para concretizar sonhos e objetivos: uma viagem de sonho; a entrada de um carro; a universidade das crianças, a sua reforma, etc”, explica.
Os hábitos (ou a inexistência deles) dos portugueses
Poupar dinheiro parece fácil. Mas, então, porque é que tão poucos portugueses conseguem fazê-lo? No dia Mundial da Poupança, 31 de outubro, no ano passado, a consultora Intrum Justicia lançou um estudo que mostrava que quase 60% dos portugueses inquiridos não conseguia colocar dinheiro de parte todos os meses.
Aqueles que conseguem, 42%, poupam uma média de 281€ por mês, e ainda 74% refere que esta poupança serve para despesas imprevistas. Estarão os portugueses mais conscientes sobre a importância de poupar?
“Os portugueses não conseguem poupar porque poupar não é um hábito que nos seja incutido desde cedo”, comenta Adelaide Miranda, engenheira e autora do livro Guia Prático da Educação Financeira. “Pelo contrário, falar de finanças em casa sempre foi tabu e os pais têm a tendência de afastar os filhos quando se discute sobre o orçamento familiar e quando o fazem é, na maioria das vezes, de uma forma negativa com expressões do género: ‘estamos com a corda ao pescoço’, ‘não dá para apertar mais o cinto’…”, acrescenta.
Poupar parece ser desde muito cedo um bicho de sete cabeças nas casas portuguesas. Incutir hábitos de poupança dentro do orçamento família é o passo primordial para uma boa gestão do dinheiro que tem de ser repartido pelas necessidades de todos. Ainda que as despesas variem todos os meses, economizar é sempre possível.
“A poupança mensal deve ser vista como uma percentagem do rendimento familiar, o importante não é o valor, o importante, essencial e obrigatório é garantir que uma percentagem seja automaticamente posta de lado para esse efeito”, refere a autora.
Mas, afinal, os hábitos estão a melhorar? Segundo o mesmo estudo, parece que depois da recessão económica, 43% dos portugueses reconhece que é muito importante poupar dinheiro. Por outro lado, parece que a procura pelo crédito continua.
O crédito que nunca mais acaba
A economia financeira mundial colapsou quando nos anos 2000 a corrida ao crédito desenfreado conduziu a uma bolha imobiliária, onde as famílias davam a sua casa como garantia ao banco para pagarem as suas dívidas. Quando os bancos começaram a falir, não demorou muito até o efeito “dominó” atuar no resto da Europa, e ter efeitos gravíssimos na economia portuguesa e na vida dos portugueses.
Ainda que passados 10 anos haja sinais de melhoria na economia, os portugueses continuam a recorrer ao crédito. Segundo o site do Banco de Portugal, os principais créditos dos portugueses são: pessoal, automóvel e cartões e descobertos.
Na verdade, como avançou o Jornal Eco no início deste ano, o Banco de Portugal criou algumas regras para travar o facilitismo à concessão de crédito a serem aplicadas no dia 1 de julho deste ano. Estas abrangiam os novos créditos à habitação, créditos com garantia hipotecária ou créditos ao consumo.
Como é que podemos contrariar esta tendência? “Vivendo dentro das nossas possibilidades. Temos de aprender a estar contentes com o que temos e não olhar para a relva do vizinho que, por vezes, pode até parecer mais verde mas na realidade pode ser artificial. Se tivermos uma folha de orçamento e vivermos consoante o planeamento, não teremos tanta tentação de recorrer a crédito”, recomenda Adelaide Miranda.
Educar para amealhar (e desde muito cedo)
Não há dúvidas que as famílias devem, desde cedo, orientar os filhos para uma boa gestão do seu dinheiro mensal. E, na verdade, há muitos jovens que não sabem como poupar dinheiro. “Os jovens devem ser ensinados desde cedo a lidar com o dinheiro em vez de o encararem como um assunto tabu. Se os ensinarmos a manejar a mesada, seguindo dicas práticas, por exemplo as que menciono no guia, eles levarão esses hábitos para a vida adulta“, explica Adelaide Miranda. E deixa um conselho: “Uma delas pode ser a que será válida para qualquer idade: separar sempre 10%, neste caso da semanada ou mesada”.
É insubstituível, também, o papel que as escolas devem desempenhar na vida dos mais jovens, de acordo com esta temática. “A escola tem um papel fundamental e por isso a educação financeira deveria ser uma disciplina ensinada nas escolas. O sistema de ensino está muito atrasado em relação a estas matérias”, diz-nos Adelaide Miranda.
Segundo um estudo da Universidade do Porto, apresentado no final do ano passado, os jovens que recebem educação financeira gerem melhor o seu dinheiro e estão mais conscientes sobre os conceitos económicos do dia a dia – como impostos ou seguros. A investigação incluiu jovens que participam No Poupar Está o Ganho – um projeto que ajuda a tomar decisões financeiras e a criar consumidores informados.
“A educação financeira é um tema que tem aplicação prática no dia a dia de todos nós, desde adolescentes a adultos. Faz todo o sentido ensinar a manejar finanças na escola”, conclui a consultora.
Susana Albuquerque dá-nos um ponto de partida para quando a poupança deverá ser implementada na vida dos mais novos: “As melhores ferramentas para começar a educar financeiramente os mais pequenos são a introdução de semanadas, a partir dos três, quatro ou cinco anos, dependendo da maturidade da criança, e mesadas, depois dos 10 (se anteriormente já tiveram semanadas).”
Aos mais pequenos é também possível incutir hábitos de poupança, como por exemplo dar algumas moedas que poderão ser guardadas em mealheiros. “Por exemplo, os pais podem dar a uma criança de três anos 1€ em dez moedas de 10 cêntimos. Isto permite-lhes criar o hábito de distribuir o dinheiro consoante os vários objetivos”, recomenda Susana Albuquerque.
Há um exercício muito útil pode fazer com os seus filhos – e que serve para nós, adultos, noutra escala – para poupar segundo a regra dos 50-40-10. Só precisa de 1€ e três mealheiros, como exemplifica a Time Growning. Ao dar 1€ à criança, ensine-a a colocar 0,50€ no mealheiro para investimentos (ativos), 0,40€ no mealheiro para gastos de lazer (passivos) e 0,10€ no mealheiro para doações.