“O dinheiro é a minha principal motivação para trabalhar”

“O dinheiro é a minha principal motivação para trabalhar”

Qual é o significado do dinheiro para si? Fique a saber como nós, mulheres, nos relacionamos com o dinheiro e surpreenda-se.

Por Mai. 9. 2019

Como em qualquer tipo de relacionamento, a nossa relação com o dinheiro precisa de uma boa dose de confiança, persistência e, sobretudo, ambição.

Não estamos a falar de ambição pelo dinheiro em si, mas pelo que podemos conseguir através dele: uma casa, a tal viagem de sonho ou até o projeto que ainda está guardado na gaveta.

O dinheiro pode ser algo supérfluo, mas também pode ser bastante útil. O seu verdadeiro valor vai depender do seu mindset. Afinal, somos nós que decidimos o papel que o dinheiro tem na nossa vida.

Já se perguntou sobre qual é a relação que tem estabelecido com o seu dinheiro? Preocupa-se, sabe por onde ele anda ou só se lembra dele na hora de fazer pagamentos? Trabalha para o dinheiro ou é ele que trabalha para si?

Para percebemos qual é a relação das mulheres com o dinheiro, questionámos 71 mulheres com diferentes cargos e de várias gerações (baby boomers, millennials, geração X e geração Z).

De seguida, partilhamos consigo algumas das respostas sobre questões relacionadas com poupança, consumo, investimentos, carreira e crenças relacionadas com o dinheiro. Será que vai ficar surpreendida?

Salário vs despesas

De uma maneira geral, a maioria das mulheres inquiridas recebe entre os 500€ e os 700€ e gastam, por mês, uma quantia que ronda os 200€ e os 500€.

Em termos de rendimentos mais elevados, destacaram-se as baby boomers, ou seja, mulheres com idades compreendidas entre os 55 e os 70 anos.

Analisando o que recebem e o valor dos seus gastos mensais, as mulheres desta geração conseguem ter mais dinheiro ao final do mês, em comparação com as restantes gerações.

Grande parte das despesas estão relacionadas com a alimentação e a renda da casa

Já as millennials (com idades entre os 23 e os 30 anos) e as mulheres da geração Z (com idades abaixo dos 23 anos) foram as que apresentaram os salários mais baixos.

Embora, de uma forma geral, os gastos sejam proporcionais com o que recebem, existem mulheres que gastam mais do que recebem. A maioria destas mulheres estão a viver “no limite”, ou seja, tudo o que recebem, gastam.

Grande parte das despesas estão relacionadas com a alimentação e a renda da casa. No entanto, as refeições em restaurantes surgem em terceiro lugar, superando, por exemplo, as despesas com a saúde.

© shutterstock

Que tipo de consumidoras são?

A maioria identificou-se como sendo uma consumidora consciente (49,3%) – compram apenas o que necessitam e não gastam mais do que recebem – ou responsável (28,2%) – comparam marcas e preços, analisando todas as formas de pagamento.

No entanto, algumas mulheres (12,7%) definiram o seu perfil como consumista – compram por impulso – ou emocional (9,9%) – compram por intuição ou fidelidade, sem pensar nas consequências.

Recebo muito pouco para as despesas que tenho, por isso, há meses que não consigo poupar – Elsa, 26 anos

Estas últimas, têm uma maior dificuldade em poupar e admitem que não lhes foram transmitidos pelos pais bons ideais em relação ao dinheiro. Além da alimentação e da renda, gastam também o seu dinheiro em roupa e em restaurantes.

A maioria poupa para… viajar!

“Quem me dera conseguir poupar”, responde Margarida, de 20 anos. A maioria das mulheres inquiridas poupam no máximo 100 euros por mês, ou nem sequer poupam.

A poupança não é algo que esteja estabelecido, principalmente para as millennials. “Recebo muito pouco para as despesas que tenho, por isso, há meses que não consigo poupar”, afirma Elsa, de 26 anos.

Os objetivos para arrecadar dinheiro não são iguais para todas as mulheres. As que têm menos de 23 anos poupam, na sua maioria, para comprar um carro ou para pagar algum curso superior. Já as que têm idades compreendidas entre os 50 e os 70 anos, poupam para a reforma.

As millennials, a geração mais representada no inquérito, poupam, na sua maioria, para fazer viagens ou para comprar uma casa.

© unsplash

A contrastar com as millennials, estão as mulheres com idades entre os 40 e os 55 anos (geração X). Estas são as que poupam mais e as que se preocupam em ter um fundo de emergência.

85% das mulheres não investe

Os investimentos financeiros não fazem parte do plano das mulheres que responderam ao questionário. No entanto, as baby boomers e X são as que mais investem, em comparação com as mulheres das restantes gerações.

Os certificados de aforro (33,3%) são a opção mais escolhida pela pequena percentagem de mulheres que investe o seu dinheiro (15%).

Vários estudos mostram que as mulheres não investem tanto como os homens, por terem um perfil mais avesso ao risco. A desigualdade familiar, a falta de literacia financeira e, por vezes, o foco nas despesas familiares, também contribuem para a diminuição da possibilidade investimento.

“Não organizo as minhas finanças pessoais”

Fazer um registo dos rendimentos e das despesas mensais é a forma mais comum de as inquiridas organizarem suas as finanças pessoais. No entanto, uma grande parte refere não ter qualquer método de organização.

A maior preocupação das mulheres é pagarem, primeiro, as suas prestações, deixando para último a poupança. Definir um limite para certas despesas e registar esses gastos numa app de finanças são algumas das opções apontadas.

As mulheres que têm um vencimento mais alto têm normalmente uma conta-poupança, associada à conta à ordem. “Transfiro logo no início uma parte do ordenado para uma conta-poupança e estou atenta aos meus gastos ao longo do mês”, respondeu Marta, account, 29 anos.

Dizem facilmente quanto ganham?

A maioria das mulheres mostrou não ter qualquer tabu em dizer o valor do seu ordenado. Contudo, as que recebem valores baixos, não mostram esta facilidade. “Não me sinto à vontade para falar de dinheiro, porque não tenho muito e o que tenho gasto, praticamente, todo”, afirma Inês, lojista, 26 anos.

Por outro lado, a insatisfação com o salário também foi apontada como motivo para falar abertamente deste tema. “Digo facilmente e com, muita revolta. Talvez por isso é que me sinta tão à vontade”, diz Íris, designer, 37 anos.

Falar de dinheiro e, principalmente, revelar o valor do salário ainda é algo difícil para as mulheres. O estudo Money is changing, realizado pela Visa, mostrou que as millennials sentem-se muito mais à vontade para falar sobre relacionamentos, trabalho e filhos do que sobre dinheiro.

No entanto, no nosso inquérito, a maior parte das mulheres (93%) afirmaram sentir-se à vontade para falar de dinheiro. Terá este paradigma a mudar?

Nunca tive a coragem de pedir um aumento – Vera, Técnica de Radiologia

A maioria das mulheres tem dificuldade em pedir um aumento

Segundo o mesmo estudo, apenas 34% das millennials negoceiam um aumento. Apesar de este ser um valor baixo, é superior ao da geração anterior. Este estudo também veio revelar que, no que diz respeito à negociação do salário, as mulheres preparam-se muito melhor do que os homens.

Os resultados do nosso inquérito também não foram diferentes. A maioria das mulheres inquiridas afirma ter dificuldade em pedir um aumento salarial.

Esta dificuldade é mais notória em quem apresenta rendimentos mais baixos. “Nunca tive a coragem de pedir um aumento. Ter trabalho, hoje em dia, na área em que se investiu é algo difícil. Pedir um aumento só iria dificultar a minha continuação na empresa”, diz-nos Vera, técnica de radiologia, 28 anos.

Para outras mulheres, negociar um salário também não é uma opção. “Se o fizer, dizem-me que há muita gente que gostaria de estar no meu lugar”, conta Carla, 26 anos, jornalista.

A pressão social também foi apontada como um dos motivos para não negociar

Algumas mulheres referiram que não sabem como fazê-lo e apontam como principal dificuldade a insegurança no seu próprio valor.

Um estudo realizado, pela empresa T. Rowe Price, com crianças entre os 8 e os 14 anos, veio demonstrar esta realidade: 45% dos rapazes afirma sentir-se muito mais confiante em relação ao dinheiro, em comparação com 38% das raparigas.

A origem desta falta de confiança parece estar relacionada com os valores transmitidos na infância.  No mesmo estudo, 80% dos pais de rapazes afirmaram que os seus filhos entendem o valor do dinheiro, em comparação com, apenas, 69% dos pais de raparigas.

Por outro lado, no inquérito da Saber Viver,pressão social também foi apontada como um dos motivos para não negociar. “Já tive medo de negociar o meu salário. Penso que no nosso país, este tipo de atitude não é bem-vinda, o que acaba por nos condicionar e levar a ter receio de o fazer”, refere Joana, maquilhadora profissional, 27 anos.

“O dinheiro é um mal necessário”

Quando pensa em dinheiro, qual é a primeira palavra que lhe vem à cabeça? Talvez esse seja o principal significado que o dinheiro tem para si. Perguntámos às mulheres que adjetivos atribuem ao dinheiro e o resultado foi um misto de emoções.

Alguns desses exemplos foram:

Libertador
Possibilitador
Felicidade
Um mal necessário
• Amigo
Injusto

As palavras mais utilizadas para caraterizar o dinheiro foram: necessário, essencial e conflituoso.

Quais são as principais motivações para trabalharem?

“A principal motivação para trabalhar é ganhar dinheiro, porque é esse o propósito. Mas também para ocupar o tempo, porque gosto de me manter ocupada. Mesmo que o trabalho seja algo que eu realmente adoro fazer, e o faça com paixão, a principal motivação continuaria a ser sempre ganhar dinheiro, e em segundo lugar, a ocupação, fazer por gosto”, afirma Luísa, 29 anos.

A maioria das mulheres, principalmente as que têm rendimentos baixos, apontam o dinheiro como principal motivação para trabalharem. É importante reforçar que muitas destas mulheres não sabem ou não têm hipótese de negociar o seu salário.

Questionadas sobre o que mudariam no seu trabalho, a maioria das respostas foram o salário e o horário

Por outro lado, as baby boomers destacam-se das restantes gerações pelo facto de o dinheiro não ser apontado como a principal motivação para trabalhar. Estas estão mais preocupadas com outros valores, como a socialização ou o desafio que a própria profissão exige.

De uma maneira geral, à medida que o salário aumenta, a motivação deixa de ser o dinheiro e passam a ser outros assuntos, como gostar do que se faz, desafios técnicos e outros.

Questionadas sobre o que mudariam no seu trabalho, a maioria das respostas foram o salário e o horário. A geração Z, distinguiu-se com outras respostas, como o ambiente de trabalho, a pressão e a rotina.

Existe uma quantia certa para que nos deixemos de preocupar com dinheiro?

“Mesmo com muito dinheiro, não existe montante possível que não nos deixe preocupados”, refere Maria, gestora de marketing, 35 anos.

Será que existe uma quantia de dinheiro ideal? A maioria das mulheres apontaram montantes realistas, de acordo com as suas despesas.

Mas, será que com um rendimento mais elevado, o estilo de vida também não mudaria? As despesas seriam as mesmas?

Comprar casa e viajar é o desejo da maioria das mulheres

Para a Raquel, 27 anos, um salário entre 2500€ e 3000€ seria o ideal. “Com este montante acho que poderia pagar o meu carro mais rapidamente, comprar uma casa mais ao meu gosto, viajar, estudar, o que me ajudaria a progredir na carreira, e ficar mais despreocupada com outros aspetos”, justifica.

Comprar casa e viajar é o desejo da maioria das mulheres, principalmente das millenialls, caso recebessem 100.000€.  

Notas: alguns dos nomes das inquiridas são fictícios;
Fontes: Estudo Money is changing; Tese de doutoramento – Atitudes, crenças e comportamentos de homens e mulheres em relação ao dinheiro na vida adulta; Estudo T. Rowe Price: Boys And Girls Not Equally Prepared For Financial Future

Qual é a sua relação com o dinheiro? Sabia que pode ganhar dinheiro enquanto dorme?