Controlar as finanças pessoais de forma responsável pode ser uma tarefa árdua. Existem vários fatores externos que influenciam e determinam a forma como gerimos o dinheiro, como, por exemplo, ter um filho, um empréstimo, uma despesa médica inesperada ou um acidente.
Para além disso, a forma como olhamos para a conta bancária está também fortemente associada às nossas figuras parentais e à forma como estas lidam com o dinheiro. Consequentemente, vários problemas podem surgir desta associação, que mais tarde se manifestam como um trauma financeiro.
Susana Albuquerque, formadora, coach e especialista em Mudança Intencional, explica tudo sobre este tema.
O que é um trauma financeiro?
Antes de desenvolver o que é o trauma financeiro, a formadora definiu o trauma de acordo com um dos maiores especialistas mundiais do mesmo, Gabor Maté.
Este afirma que o “trauma é uma ferida psíquica que nos endurece psicologicamente e que afeta a nossa capacidade de crescimento e desenvolvimento. O trauma é o que acontece dentro de nós em resultado do que nos aconteceu exteriormente.”
Desta forma, e de acordo com Susana Albuquerque, o trauma financeiro compromete então a capacidade de crescimento, desenvolvimento e autonomia financeira.
Quem afeta e porquê?
A especialista confirma que o trauma financeiro pode afetar qualquer pessoa e que “aprendemos a lidar com o dinheiro com o exemplo das nossas figuras parentais”.
Visto que o “dinheiro está intimamente associado a poder e controlo, os pais, ou quem os substituiu, podem comprometer qualquer uma das necessidades básicas das crianças – alimentação, segurança, afeto – através dos seus comportamentos”, acrescenta.
Estes incluem discussões sobre finanças, controlar a forma como o dinheiro é gasto, ser avarento ou gastar em excesso.
Em suma, neste tipo de trauma “há medo e dor em relação ao dinheiro e a conduta financeira é ditada pela necessidade de proteger essa mesma dor e medo”, afirma a formadora.
Principais causas
- Pais que gerem dinheiro de forma inconsciente;
- Pobreza;
- Acontecimentos agudos, como guerras, divórcios, desemprego, doenças, sobre-endividamento, crises sociais ou sanitárias.
Sinais de que pode ter um trauma financeiro
Há indícios que podem dar a entender se sofre ou não deste tipo de trauma. Para Susana Albuquerque, estes são os quatro principais sinais de alerta:
- Comportamento extremo em relação ao dinheiro, por exemplo, ser avarenta de forma obsessiva ou ser excessivamente controladora de qualquer gasto;
- Gastar demais;
- Evitar qualquer comportamento de controlo financeiro;
- Ser incapaz de seguir ou controlar o seu dinheiro.
Como lidar com este tipo de trauma
Susana Albuquerque afirma que o que primeiro passo para lidar com o trauma financeiro é o de “tornar conscientes os comportamentos protetores da ferida e dor causada pelo trauma e todas as emoções em relação ao dinheiro e à forma de gerir o mesmo”.
De seguida, é necessário que exista cura a nível emocional, cognitivo e, por vezes, até mesmo físico. Desta forma é possível recuperar as competências de autorregulação, autodisciplina, foco, persistência e autoestima em relação ao dinheiro.
“Estas são essenciais para uma boa gestão financeira e, se for o caso, à resolução dos problemas financeiros de descontrolo ou sobre-endividamento”, adiciona a formadora.
Por fim, é fundamental criar hábitos financeiros saudáveis.
- Fazer e gerir um orçamento;
- Poupar de forma automatizada;
- Gastar de forma consciente e de acordo com os limites financeiros;
- Recorrer ao crédito apenas se estiver dentro da capacidade financeira.
Ansiedade como resultado do trauma financeiro
De acordo com a especialista em Mudança Intencional, “da mesma forma que aquilo que nos faz comer demais é a ansiedade e não a fome, o que nos faz gastar demais ou de forma descontrolada é a ansiedade e não a necessidade de comprar coisas para aliviar a tensão causada pela dor e pelo medo que esta tenta mostrar. Uma boa gestão da ansiedade requer então que a mesma seja reconhecia como tal”.
Posteriormente, podem ser implementadas certas estratégias para “aprender respostas conscientes diferentes das respostas baseadas no medo”, tais como técnicas de respiração, de relaxamento corporal e de atenção plena para notar quais são os gatilhos que a fazem sentir ansiosa em relação ao dinheiro.
Conselhos para uma recuperação saudável
Para terminar, sobre como dar a volta por cima ao problema, Susana Albuquerque afirma que é fundamental “aprender a reconhecer o mesmo e tentar curá-lo”, bem como “pedir ajuda a um profissional especializado, quer seja um psicoterapeuta, psicólogo cognitivo-comportamental ou coach financeiro”.
Conclui que acredita “profundamente no crescimento pós-traumático” e que é possível uma total recuperação deste tipo de trauma.
Pronta para abraçar um novo capítulo financeiro?