David Oliveira nasceu na Madeira e cresceu a ver a mãe e a avó a bordar, mas foi preciso sair da ilha para valorizar as suas raízes e os bordados, um saber tão madeirense, que tem passado de geração em geração.
“Depois de ter estado cinco anos fora, no Porto e em Oslo, a estudar Arquitetura, comecei a olhar para as coisas de forma diferente e a ver o bordado como uma oportunidade que, apesar de ser uma cultura forte na ilha, está a esmorecer e os mais jovens não veem nele um futuro promissor”, conta.
Contrariando essa tendência, David Oliveira fundou a Bailha, uma marca sustentável de t-shirts, sacos e lenços com bordados com motivos do imaginário coletivo da Madeira.
“Tinha tudo em minha casa, a minha mãe bordava e eu desenhava. Tudo começou com uma t-shirt com um bordado do casal de vilhões (homem e mulher com o traje típico madeirense). A família e os amigos viram, gostaram, encomendaram e a brincadeira tornou-se mais séria”, refere.
Depois dessa experiência, começou a fazer outros desenhos, sempre dentro do que é associado à ilha, tais como a banana, a bananeira, o peixe-espada-preto, a papaia e o maracujá. “As pessoas gostam dessa referência às suas memórias”, acrescenta.
Intemporalidade e justiça
As peças da Bailha, de estilo minimalista e intemporal, têm certificações da Global Organic Textile Standard e Global Recycled Standard, e são feitas, como nos diz o fundador, com algodão de origem 100 por cento biológico ou reciclado e são veganas, aprovadas pela PETA.
Mas este projeto vai muito além da sustentabilidade ambiental. A Bailha defende também a sustentabilidade social e económica e pratica aquilo a que se chama de comércio justo, tendo o selo de Fair Wear.
“Além de ser uma forma descontraída de continuar o legado do bordado da Madeira, pretendemos valorizar o papel da artesã, ou seja, da bordadeira, pagando de forma justa”, sublinha David Oliveira.
Conta-nos ainda que a Madeira “é a única região do País que industrializou o bordado, tornando as bordadeiras operárias em vez de artesãs, muito devido à presença alemã e inglesa. “É um trabalho duro e mal pago”.
Na Bailha, trabalham quatro bordadeiras – Dorina Pita, Felicidade Mendes, Helena da Silva e Sara Faria, todas do Estreito de Câmara de Lobos, a freguesia com a maior densidade de bordadeiras na região –, que são chamadas ao processo criativo.
“Escolhem as cores que vão utilizar, porque, mais do que ninguém, elas têm uma sensibilidade incrível para isso. Lidaram toda a vida com as cores e isto gera também um sentido de pertença”, diz.
“Para ir ao encontro da narrativa da marca em focar o trabalho das bordadeiras, as novas etiquetas das peças serão assinadas por elas”, garante David Oliveira.
As peças Bailha estão à venda no site, na conta de Instagram e nas lojas a~mar, no Funchal, e n’A Vida Portuguesa, em Lisboa.