É um dos mais proeminentes designers de moda nacionais e presença assídua na Moda Lisboa, onde apresenta duas coleções por ano, mas é no atelier que desenvolve um trabalho mais personalizado de confeção por medida.
Este ano comemora 25 anos de carreira. Fomos conhecê-lo melhor.
Entrevista a Carlos Gil
O que o levou a um dia a querer ser designer de moda? Houve alguma influência da família que fosse marcante?
Nasci em Moçambique, tive uma infância feliz, tudo era diferente. Claro que crescer nesse ambiente muito livre, festivo e de glamour facilitou o meu percurso, influenciando decisivamente a minha carreira no mundo da moda.
Crescer numa família matriarcal foi uma oportunidade única que me permitiu dar o verdadeiro valor à mulher. Aos 17 anos, fui estudar para Lisboa, mas depressa percebi que estava no curso errado; o meu gosto seguia pelas artes.
Sempre gostei de moda e foi então que decidi candidatar-me. Hoje, sei que foi a opção certa; a moda é a minha paixão. Tenho o privilégio de fazer o que gosto e tudo se torna mais fácil quando se faz o que se adora. Todo o esforço, os contratempos, as dificuldades, as deceções, as alegrias e o orgulho ao longo do meu percurso serviram-me de aprendizagem.
Sem todo este caminho não teria a dedicação, resiliência e foco necessários para atingir os objetivos que ao longo destes 25 anos conquistei.
O que é que o inspira nas suas coleções?
Dou muita relevância à elegância e sofisticação da mulher. Sempre idealizei que fosse o ponto forte das minhas coleções, pois é assim que gosto de ver a mulher que visto.
Vestir uma primeira dama deu-lhe uma notabilidade diferente?
Claro que sim. Foi um gosto e um privilégio poder vestir Maria Cavaco Silva durante 10 anos. Foi um trabalho que exigiu muito estudo sobre protocolo e que me ajudou a crescer como pessoa e como designer.
Tem as condições necessárias em Portugal para internacionalizar a sua marca?
Sim. Foi um desafio no início, e o pós-pandemia tem sido outra aprendizagem. Em 2015, dei o primeiro passo na internacionalização na Semana da Moda de Milão e continuamos a trabalhar e a conquistar novos mercados.
Em 1998, abriu o primeiro atelier no Fundão, seguido de uma loja. É difícil estar sediado numa cidade pequena?
O Fundão foi a cidade que me acolheu após o regresso de África. Passados estes 25 anos de carreira, lembro-me da luta e do caminho que percorri desde que abri o atelier e a loja. A maior dificuldade que senti foi a imposição dos códigos da interioridade, mas serviu para me tornar mais forte e convicto das minhas opiniões e decisões.
Sou uma pessoa resiliente. Com a minha profissão, viajo imenso para o estrangeiro, mas também passo uma grande
parte do tempo em Lisboa. Não sinto necessidade de viver numa grande cidade.
Viver no Fundão foi e continua a ser uma escolha consciente que me amadureceu muito como pessoa, dadas as dificuldades com que me deparei. Atualmente, posso dizer que esta decisão foi a correta pois sinto-me feliz.
Como é que foram os 11 anos que decorreram da abertura do atelier até à sua entrada no Portugal Fashion, em 2009?
Foi um longo caminho, lutando sempre sem criar grandes expectativas, mas com a certeza de que iria concretizar os meus objetivos. Luto diariamente para que algo aconteça, procuro desafios e é com eles que cresço.
Nunca tracei metas específicas para a minha vida; orientei, sim, a minha carreira com profissionalismo, muito trabalho, honestidade e humildade. Posso dizer que realizei sonhos que nunca pensei alcançar.
Este ano, voltou a ser nomeado na categoria de Melhor Designer de Moda nos Globos de Ouro, como já tinha acontecido em 2015 e 2017. É este ano que ganha?
Claro que sim [risos]! Eu ganho sempre que sou nomeado.
Trabalha sempre com bons tecidos – é o segredo do seu sucesso como designer de moda?
Gosto de trabalhar com tecidos nobres, com uma modelagem rigorosa e uma costura minuciosa, adaptando-me sempre às tendências e às exigências das minhas clientes.
mais inclusiva, sustentável e tecnológica – Carlos Gil, designer de moda
As mangas das camisas e dos vestidos têm sempre uma construção elaborada e diferente. Tem um gosto especial em construir mangas?
Considero que a modelagem faz parte da arquitetura da moda. O volume das mangas foi uma das tendências destes últimos anos. Continuo a dar grande importância aos volumes e ao rigor da modelagem, tanto em casacos como camisas, que são os bestsellers da marca.
Como é que vê a moda daqui a dez anos?
A moda sofreu várias mudanças significativas que refletem as transformações na sociedade como um todo, tornou-se
mais inclusiva, sustentável e tecnológica. As mulheres assumem cada vez mais um papel de liderança na sociedade.
Eu sinto que a moda hoje nada tem que ver com a moda de há 30 anos, quando acabei o curso. A tecnologia é a realidade dos nossos dias e está presente nas mais diversas áreas.
Como é a colecção de outono-inverno que comemora os 25 anos?
É uma coleção que foi vivida com a emoção dos 25 anos de carreira: comecei por apresentar dois bustiers de penas
que representam os momentos menos bons da minha vida, fui buscar imagens de flores que guardei ao longo de 25 anos e criei um padrão floral e terminei o desfile com cores mais vibrantes, que simbolizam o auge da carreira e o momento atual.