Diogo Miranda começou a sua carreira em 2007 no Portugal Fashion. Hoje, aos 34 anos, é um dos maiores nomes na moda portuguesa. Natural de Felgueiras, já conta com 15 anos de carreira e nunca dispensa o atendimento personalizado e a atenção aos pormenores.
O designer de moda partilhou com a Saber Viver o progresso da sua marca nos últimos anos, os seus valores como estilista e a sua opinião sobre o consumo excessivo de vestuário.
Fique a conhecê-lo um pouco mais.
Entrevista a Diogo Miranda
Nestes 15 anos, como é que a marca tem evoluído?
Acho que as pessoas me descobriram durante a pandemia. Como tiveram dificuldade em sair para comprar roupa e em viajar, viraram-se mais para os produtos portugueses. A pandemia trouxe isso, uma procura crescente, mesmo nas vendas online. Nesse sentido, houve uma evolução maior nestes últimos dois anos.
Há uma maior valorização da moda de autor?
Sim, neste momento as pessoas procuram mais qualidade e sabem que estão a investir numa peça diferente, com design, de boa qualidade e obviamente com maior durabilidade.
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O facto de trabalhar com materiais premium coloca-o num patamar mais elevado?
Trabalho num mercado diferente, a que pouca gente se dedica, são clientes de faixas etárias a partir dos 35 anos. As minhas coleções são sempre muito variadas, tanto temos vestidos curtos como vestidos compridos, simples ou sofisticados. Percebi que em Portugal não há muitas marcas que se dediquem a este segmento que tem poder de compra, que procura qualidade e peças que façam a diferença. Hoje em dia, as mulheres procuram um produto diferenciado, querem sentir-se bem vestidas e principalmente não querem chegar a um evento e encontrar alguém com um vestido igual.
O atendimento pessoal e a forma como fazemos as provas também pontuam – as clientes sabem que tudo é personalizado (bordarmos o nome delas no interior do vestido!). No fundo, com toda a atenção que lhe é dada, a cliente sente-se valorizada e, para mim, torna-se família. Também me preocupo com todo o visual, penso no penteado, nos sapatos, nas joias… É todo um trabalho de acessoria de imagem.
E vende mais roupa por medida ou pronto a vestir?
Durante a pandemia, vendia mais por medida; agora, há quem compre roupa que criei para a coleção e também peças por encomenda. Este ano são os casamentos, a minha agenda está cheia até dezembro. Já tive alguns casamentos em que vesti cerca de dez pessoas, é um exercício
engraçado de criatividade – todas elas têm que estar perfeitas, de vestidos diferentes e cores também diferentes. É um desafio interessante, mas extenuante.
Considera que há um Diogo Miranda diferente antes e depois da pandemia?
Não acho que a marca e o Diogo sejam diferentes. A procura do nosso trabalho é que é muito maior agora do que antes da pandemia. As pessoas estão ansiosas por consumirem, irem a festas, divertirem-se, sentirem-se bonitas, fazerem coisas das quais ficaram privadas nestes últimos anos… é normal que a nossa atenção acabe por ser diferente.
Acha que o consumo exacerbado vai manter-se?
Tudo depende do poder de compra; se as pessoas tiverem mais dinheiro, preferem roupa com mais qualidade e moda diferenciada. O que sinto, neste momento, é que as mulheres procuram mais peças exclusivas e feitas à medida e a moda massificada ficou para as faixas etárias mais novas e com pouco poder aquisitivo, quem tem dinheiro para comprar prefere roupa de qualidade, e quem pode pagar acaba por fazer compras mais inteligentes; em vez de comprarem dez, compram dois vestidos porque é o que faz sentido.
As suas coleções têm peças muito versáteis, isso é intencional ou acontece naturalmente?
Ambas. Há peças que concebo para se poderem usar de várias maneiras, porque também gosto de combinar peças mais improváveis, e por vezes não é assim, as peças são versáteis por natureza. No meu desfile de outono-inverno, combinei vestidos com saias rodadas – são duas peças que funcionam sozinhas ou conjugadas. Quanto mais conjugações pudermos fazer, mais interessante se torna a peça.
Eventos como o Portugal Fashion e a Moda Lisboa também tiveram um papel importante na divulgação do seu trabalho. Como é que teria resistido sem esse apoio?
Se não fosse o Portugal Fashion, nunca teria chegado onde cheguei. Em 2015, comecei a desfilar na Semana de Moda de Paris, e essa etapa foi muito importante para a marca, e mesmo o evento no Porto é o veículo de divulgação maior do nosso trabalho.
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O que sente quando vê uma celebridade com uma criação sua?
Escolho muito bem as pessoas que visto e tenho de ter uma relação de identificação com elas, isso é o mais importante. Claro que quando é a primeira vez estou a conhecê-la naquele momento, mas sinto quase sempre que são família; esse lado emocional é importante para mim. A Soraia Chaves, a Luísa Beirão e a Sónia Balacó, por exemplo, são mulheres com quem me identifico, sei que nunca vão errar na escolha dos sapatos, do cabelo ou das joias.
Que mundo foi aberto pelo e-commerce?
Começámos com o e-commerce ao mesmo tempo que desfilámos pela primeira vez em Paris. As outras marcas já estavam a vender online e nós tínhamos de as acompanhar. A partir do momento em que somos uma marca internacional, temos de preencher requisitos e um deles é poder vender para o mundo inteiro, foi uma aposta que na altura fizemos e que tem crescido.
Em que países é que cresceram as vendas?
O nosso melhor mercado é o Médio Oriente. Desde que começámos a desfilar em Paris, tivemos muitas lojas a comprarem-nos a coleção e mesmo nas vendas online são quem mais compra. Na pandemia, abrandou, mas estamos a recuperar, o que é ótimo. Para percebermos como a marca funciona verdadeiramente, temos de vender para fora de Portugal.
Em 2019, foi convidado para Head Designer da marca Paula, do Grupo Amorim. Como foi essa experiência?
A experiência era de um ano e basicamente era o lançamento da marca e foi muito interessante. Não acredito em fazer alguma coisa sem alma, por mais pequena que seja. Se for uma experiência com a qual não vou aprender nada, nem sequer perco tempo.
Aqui, criei um conceito e desenvolvi uma imagem para uma marca que não é a minha, com as diretrizes do maior grupo português. Foi bom. Já no passado quando trabalhei na Inditex, desenvolvia coleções para a Zara e já tinha a minha marca, não se pode desenvolver coleções que colidam com a nossa, é mais desafiante, obriga-nos a crescer do ponto de vista criativo e intelectual.
É difícil ser-se designer em Portugal?
É difícil ter qualquer profissão em Portugal. Somos pequenos, não valorizamos o que é nosso, há um conjunto de fatores que nos desmotivam de trabalharmos em Portugal. Por exemplo, a fábrica que faz a minha roupa é a mesma que faz casacos para a Balmain, para a Dior e para a Max Mara; por que é que a minha roupa não tem o mesmo valor?
Outra questão é que para quem trabalha demi-couture, como eu, hoje em dia está a ficar sem mão de obra, não há pessoas para fazer este tipo de trabalhos, nem que queiram aprender, preferem viver de subsídios.
Onde vai estar daqui a 15 anos?
Aprendemos com a pandemia a não fazermos planos para o futuro e a viver o dia a dia. Hoje, é assim, amanhã, logo se vê.