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Sofia Ribeiro: “Não há como passar por uma situação limite e não tirar lições dela”

Sofia Ribeiro: “Não há como passar por uma situação limite e não tirar lições dela”

A atriz é o rosto da nova campanha solidária da Intimissimi, em conjunto com a Liga Portuguesa Contra o Cancro. A Saber Viver falou com Sofia Ribeiro sobre a sua luta contra a doença, e não só.

Por Out. 19. 2020

Foi na loja da Intimissimi na Rua Augusta, em Lisboa, que falámos com Sofia Ribeiro sobre o projeto Outubro Rosa, que junta a marca de lingerie e a Liga Portuguesa Contra o Cancro numa ação solidária, com a missão de alertar para o cancro da mama.

Durante este mês, por cada soutien vendido, a marca irá doar 2€ para a associação. Até ao momento, já foram angariados 36 mil euros, mas como a atriz nos disse, o objetivo é “o número aumentar”. Além disso, uma unidade móvel vai andar de norte a sul do País para levar informações sobre esta doença ao público e ajudar a fazer o auto-exame da mama.

A Saber Viver teve oportunidade de falar com a atriz de 36 anos, que foi diagnosticada com cancro da mama em 2016, e que inspirou milhares de mulheres com a superação da doença e luta.

Entrevista a Sofia Ribeiro

O que é que esta campanha significa para si e qual é a principal mensagem que quer passar?

Receber este convite deixou-me muito, muito feliz. Primeiro porque já era um namoro antigo – eu sou muito fã da Intimissimi -, e depois porque me identifico com o posicionamento e com os valores desta marca, virada para as mulheres, preocupada com as suas necessidades e, portanto, associar-me fazia todo o sentido. Depois, poder juntar tudo isto a uma campanha que me diz tanto, por todas as razões que já sabemos, ainda mais feliz me deixa.

Desde há vários anos para cá que eu visto esta camisola com o objetivo de poder chegar ao maior número de pessoas possível, para passar informação, clarificar questões, desmistificar o tema e quebrar tabus.

O objetivo desta campanha é, acima de tudo, inspirar e conseguir dizer a todas as mulheres que elas conseguem o que quiserem, independentemente do momento que estiverem a viver. É uma campanha de empoderamento, de boa energia, feita com muito amor, feita por mulheres e para mulheres.

A palavra “confia” é um dos seus motes. Como é que surgiu e porque é que é tão importante para si?

Porque é muito importante numa situação destas (ou noutra qualquer na nossa vida) confiarmos, acima de tudo, em nós, na nossa força, na nossa determinação e confiarmos na vida, que é em si uma dádiva. Podermos ter saúde e estarmos rodeados das pessoas que gostamos… Acho que a base de tudo é confiar.

Como é que foi gerir a notícia de que foi diagnosticada com cancro da mama, com a exposição mediática que tem? Sentiu alguma vez que a sua privacidade foi invadida?

Quem me acompanhou sabe que não escondi nada por opção. Não há uma forma mais certa e menos certa de lidar com o que quer que seja na nossa vida, cada um tem a sua e não se deve julgar.

Eu escolhi partilhar porque, em primeira instância, me fez muito bem. Libertou-me das questões que tinha, porque todos os dias me chegavam partilhas, informações, mas era tudo novo para mim. Todas nós precisamos de referências na vida e eu também precisava das minhas, de pessoas que me inspirassem, que me trouxessem informação que eu não tinha e, portanto, ajudou-me muito.

Depois, percebi que não estava só a ajudar-me a mim, mas estava também a ajudar as pessoas que estavam a passar pelo mesmo e que sentiam em mim uma força que muitas das vezes elas próprias não tinham.

Enquanto cidadãos temos o dever de alertar para este tipo de temas, não só o cancro de mama, mas também outros, e enquanto figura pública mais ainda.

Nunca se sentiu, de alguma forma, sufocada com a opinião das pessoas?

Não, de todo. Primeiro, o foco era eu ficar bem e cuidar de mim. Depois, as mensagens e tudo o que chegava até mim, chegava sob forma de apoio, carinho e partilha. Foram sempre formas de amor.

Todas aquelas que não foram, que foram uma minoria, nem sequer chegaram a mim. Não sou pessoa de me focar nas coisas más da vida.

Hoje, quais são as mensagens mais comuns que recebe de mulheres que já passaram ou estão a passar por esta doença?

Recebo muitas, todos os dias. Recebo de mulheres que estão a viver a doença, que têm todos os receios e mais alguns inerentes a quem passa por uma experiência de lhes dizerem que vão ter de lidar com cancro de mama, como desde quais são os sintomas, em que altura começa a cair o cabelo, a alimentação ou os receios do julgamento público.

Felizmente, estamos a caminhar no sentido de as pessoas viverem melhor com a doença. Muitas vezes, as pessoas, e não é por mal, fazem com que quem está doente se sinta desconfortável e, portanto, são muitos os receios. Ou, então, são apenas partilhas.

Dizem-me, por exemplo, que o meu livro lhes fez companhia nas sessões de tratamento. É muito rica e muito feliz esta troca.

''Não é um processo fácil, mas é possível passar por ele. Não entrar em alarmismos, em pânico, e naquela ideia de que não vou ao médico porque ‘quem procura acha’. É exatamente o contrário''

Quais é que acha que são os maiores tabus que têm ainda de ser desmistificados sobre o cancro?

É, acima de tudo, as pessoas ainda verem esta doença como uma sentença de morte. E não é, nem tem de ser.

Felizmente, os números dizem que a maior parte dos casos detetados a tempo, e isto é fundamental dizer, têm um final feliz. Não é um processo fácil, mas é possível passar por ele.

Não entrar em alarmismos, em pânico, e naquela ideia de que não vou ao médico porque ‘quem procura acha’. É exatamente o contrário. O que quer que aconteça, será sempre muito mais simples de lidar e resolver se for descoberto a tempo. Esta mensagem é fundamental.

Acha que as pessoas estão mais conscientes a nível de prevenção, comparativamente há uns anos?

Sem dúvida. Acho que sim, estamos muito melhor do que já estivemos. Há um tempo nem o nome cancro se dizia, dizia-se que as pessoas tinham doença prolongada, era quase como se fosse contagioso. Agora não, estamos a caminhar num ótimo sentido.

Quais foram as principais alterações que fez na sua vida depois desta experiência?

Não há como passar por uma situação limite e não tirar lições dela. Há vários estudos fidedignos que dizem que a alimentação é essencial, que a atividade física é crucial, que tentarmos reduzir os nossos níveis de stresse é essencial… Portanto, a minha vida passou a ser muito mais focada nisso, sem extremismos e fundamentalismos, porque acho que é no equilíbrio que está o ganho de tudo na nossa vida.

A minha alimentação é muito mais saudável hoje, muito mais regrada, tento praticar exercício físico com a máxima regularidade e tento ainda encontrar mecanismos na minha vida para descarregar o stresse e carregar energias.

Mas a Sofia já era uma pessoa muito ativa…

Sim, e sempre fui. A minha alimentação, de um modo geral, sempre foi saudável, mas não era tão focada. Quando se trabalha muitas horas, damos por nós a dormirmos cinco horas em vez das horas necessárias, ou a não bebermos um copo de água ao longo do dia… Este tipo de coisas que são “normais” porque a vida nos empurra para isto, deixaram de o ser para mim porque comecei automaticamente a pensar sobre elas.

A forma como estamos na vida é completamente diferente. A gratidão que tenho por estar cá hoje e o amor que tenho pelas pessoas, triplicou.

Como conseguiu mostrar-se sempre tão positiva?

Não sei dizer. Eu própria fiquei surpreendida com a forma como geri. Lá está, era tudo novo. Há pessoas que ficam muito magoadas e até revoltadas com a doença. Mas no meu caso não, o meu foco era ‘eu quero ficar bem, eu quero que isto acabe o mais rapidamente possível’.

Por mais momentos em que eu estivesse em baixo, porque existiram, sempre tive presente na minha cabeça que aquele era um momento que eu estava a viver. Acho que foi daí que veio esta positividade.

O que é para si “Saber Viver”?

Acho que sei viver melhor hoje (risos). Saber viver é tirar partido das melhores coisas que temos na vida, que somos nós, afetos, momentos… A felicidade é isso mesmo. É sabermos viver esses momentos o melhor possível e aproveitarmos as coisas que nos fazem feliz.