A fast fashion está a caminhar para a produção sustentável (e com os embaixadores certos)
Poderá mesmo uma marca de moda de produção massiva ser sustentável? Os passos estão a ser dados e os embaixadores destas marcas não descuram na exigência de trabalharem com dados comprovados. A C&A conseguiu isto, e não só.
Estará mesmo a moda a dar os passos certos para conseguir produzir os seus produtos de forma sustentável? Hoje, falamos de um exemplo que merece a sua atenção, talvez por estar a acabar com o estigma de que tudo o que é feito por uma marca considerada fast fashion é mau.
A C&A começou o seu caminho no mercado português há 30 anos com a inauguração da sua primeira loja em Cascais, no Cascaishopping, seguindo a sua expansão de norte a sul do País nos tempos seguintes. “Inovar para ir ao encontro das necessidades dos clientes sempre foi o nosso objetivo, há 30 anos, numa realidade totalmente diferente da atual, as nossas lojas têm ajudado muitos consumidores a obterem moda que de outra forma não poderiam obter”, diz-nos Domingos Esteves, Diretor Geral da C&A em Portugal e Espanha.
A marca, que surgiu em 1841 pela mão dos irmãos Clemens e August Brenninkmeijer, quis destacar-se na oferta de uma vasta variedade de tamanhos, conseguindo tornar a moda também acessível, seguindo as tendências da altura. “Crescemos e aprendemos muito desde que estamos presentes em Portugal, e queremos acreditar que os portugueses cresceram e aprenderam connosco também. Podemos dizer que estes 30 anos foram, sem dúvida, incríveis e com muitas histórias bonitas para contar e recordar”, refere o diretor geral.
Estas histórias são agora celebradas numa campanha que prometeu inclusão e um foco na sustentabilidade. Na verdade, já há algum tempo que a C&A se tem esforçado em fazer este caminho. “A sustentabilidade faz e fará sempre parte do nosso ADN, pelo que a utilização de materiais mais sustentáveis e a adoção de processos mais responsáveis começou há vários anos. Durante todo este tempo, implementámos diversos protocolos em todas as áreas do nosso negócio para assegurar que contribuímos para o bem-estar do planeta e da sociedade”, garante-nos Domingos Esteve.
Em Portugal, não tem sido diferente. Desde sempre que a marca tem roupa certificada, especialmente a roupa de bebé. A introdução do algodão orgânico nas coleções começou em 2004 e hoje, 71% das matérias-primas usadas possuem ainda mais certificações, como a viscose EcoVero™ e o linho European Flax®.
“Fomos o primeiro distribuidor de moda a oferecer produtos certificados Cradle to Cradle no ano 2018, com certificado ouro que garante que os artigos são produzidos sob elevados padrões sociais e com materiais 100% seguros e não tóxicos, 100% de energia renovável, 100% de água reciclada e onde cada peça é concebida para ter uma segunda vida”, acrescenta o responsável da marca que reforça ainda o lançamento da coleção Forever Denim, confecionada com ganga sustentável.
Mas a preocupação com a sustentabilidade não fica por aqui. Em 2020, a C&A decidiu compensar as emissões de carbono produzidas nas lojas de Espanha e Portugal através de projetos de reflorestação, tornando-as neutras em carbono.
“Acreditamos muito que o futuro da moda passará pelo alargamento de medidas deste género sendo que o grande objetivo terá de estar centrado na diminuição das emissões de carbono nas diferentes áreas da cadeia de valor da nossa indústria. Queremos com estes projetos ajudar a consciencializar os nossos colaboradores e clientes da importância de agir de uma maneira responsável e da premência de alterar comportamentos que prejudiquem o meio ambiente”, refere.
30 anos, histórias e planeta verde
Até 2028, a C&A assumiu uma nova estratégia de sustentabilidade com três objetivos chave: Unir & Inspirar, Renovar & Restaurar, Inovar & Liderar. Isto veio reforçar o compromisso com o planeta e com os princípios base do seu negócio.
Passados 30 anos de moda em Portugal, a marca lançou a campanha 30 anos, infinitas histórias para agradecer o apoio dos portugueses e para continuar este esforço de se tornar mais verde.
Para isto, a marca uniu-se a alguns embaixadores, de áreas distintas, que cumprem o objetivo e os valores da campanha. Francisca Macedo (professora e escritora d’O Clube dos Cientistas), Nuno Brito Jorge (engenheiro do ambiente e fundador da GoParity), Mário Meireles (engenheiro urbano e doutorado em Mobilidade Sustentável) e Catarina Oliveira (nutricionista estagiária e criadora de conteúdos digitais ) foram os quatro rostos escolhidos.
“Procurámos perfis de pessoas com um forte relacionamento com os valores da nossa marca, e foi assim que surgiu a oportunidade de colaborar com os protagonistas da nossa campanha, que trabalham na área da sustentabilidade, inclusão, diversidade e inovação”, menciona o diretor geral.
Embora o projeto lhes parecesse interessante, alguns dos embaixadores quiseram garantir de que a C&A estaria a fazer todos os esforços para cumprir as suas metas de sustentabilidade.
No caso de Nuno Brito Jorge, o ‘não’ foi a primeira resposta que lhe veio à cabeça por se tratar de uma marca de fast fahion, mas a opinião mudou. “Analisámos os relatórios de sustentabilidade desde 2017, os tipos de certificações que têm, comparámos com os pares e verificámos que é uma empresa que está a fazer uma coisa diferente das outras. Na C&A parece que a mudança está a ser implementada por dentro, ou seja, a sustentabilidade não é um side project, estão a tentar trazer a sustentabilidade para o core da empresa. Isto vê-se, por exemplo, com o algodão orgânico, que não aparece só na coleção sustentável, aparece em todas as coleções”, afirma.
Para Francisca Macedo e Catarina Oliveira foi importante identificarem-se com os valores da marca, embora em áreas diferentes.
Francisca Macedo trabalha diretamente com crianças e muito do seu trabalho passar por passar os valores certos para que possamos viver num planeta mais amigo do ambiente. “Acredito mesmo que os miúdos seguem exemplos. Mais do que dizer, temos de mostrar. Portanto, em vez de estar meia hora a explicar que não precisam de comprar isto ou aquilo, é preferível pegar neles, ir para um jardim e deixá-los apanhar folhas secas e perceber que há mil brincadeiras que podem fazer com elas, em vez de comprar brinquedos novos.”
Catarina Oliveira teve, há cinco anos, uma inflamação na medula que fez com que deixasse de andar. Hoje, dedica-se a combater o estigma e o tabu que existe à volta de pessoas com deficiência, alertando para a falta de representatividade. “Esta é uma campanha que não é sobre deficiência, é uma campanha a celebrar os 30 anos da C&A que chama uma pessoa com deficiência. Com isto, senti-me representada.”
Alertar para a causa da sustentabilidade é uma preocupação transversal a todos os embaixadores desta campanha. Dizer que ‘não’ diariamente parece ser uma das solução mais evidentes para viver num mundo mais verde.
“A mensagem fundamental é: em caso de dúvida, o melhor é sempre não fazer. Nós fazemos demasiadas coisas no geral. Compramos demais, viajamos demais, comemos demais… Portanto, sempre que pudermos, o ideal será não fazer. Podemos reduzir a quantidade de carne, limitar a duas, três, quatro vezes por semana, até porque não faltam leguminosas que sejam fontes de proteína”, menciona Nuno Brito Jorge.
Francisca Macedo segue a mesma linha de pensamento. “Dizer que não. Dizer que não mais vezes. Muitas das vezes precisamos de um par de calças e vamos às compras. De repente estamos a querer comprar 20 peças, então, temos de parar e perceber se precisamos mesmo. Não precisamos de ser vegetarianos, mas podemos perceber se precisamos de comer tanta carne numa refeição. Se calhar não”.
A última ação da marca tem com propósito criar um bosque onde colaboradores e clientes ajudarão a plantar árvores
O dia de amanhã
O futuro segue incerto na indústria da moda, mas algumas destas medidas conseguem dar ao consumidor certezas de que os esforços estão a ser levados a sério.
A última ação da marca tem como propósito criar um bosque onde colaboradores e clientes ajudarão a plantar árvores. O projeto é feito em parceria com a Life Terra, uma fundação cuja missão é restaurar a ligação das pessoas com a Terra e permitir que se atue no imediato de forma impactante em relação ao clima, e pretende ainda reabilitar zonas deterioradas que necessitem de uma restauração ambiental (como Samora Correira, em Portugal, e Montes de Vigo, em Espanha, terrenos estes afetados pela desertificação e pela devastação de incêndios).
Por cada compra que os clientes realizem nas lojas C&A Portugal entre 4 e 14 de novembro, será doado 1€ para a criação do bosque C&A em Portugal, que terá uma extensão de aproximadamente dois hectares, permitindo a redução de mais de 250 toneladas de emissões de CO2 nos próximos anos.
Para Domingos Esteves, a C&A continuará o seu papel com uma pegada mais verde. “Continuaremos a trabalhar para produzir coleções de grande qualidade, respeitadoras para com o meio ambiente e que tenham um compromisso evidente com o espaço social, respeitando a diversidade e assegurando a inclusão. Estamos também empenhados em continuar a integrar as lojas físicas e o mundo digital, para podermos oferecer uma ótima experiência de compra em todos os canais.”