Há um ano e meio atrás, quando as amigas Joana Cunha e Patrícia Imbarus se reencontraram, em conversa debateram o documentário True Cost. Este foi o ponto de partida para a criação da Fair Bazaar. Lançada em setembro, no Greenfest (o maior evento de sustentabilidade do país), a Fair Bazaar tem como propósito construir uma comunidade global de consumidores conscientes.
Todas as compras que fazemos são o reflexo do mundo onde queremos viver. A mensagem da Fair Bazaar é: opte por comprar produtos conscientes. O meio-ambiente agradece. A Fair Bazaar faz uma seleção de produtos éticos e sustentáveis, de alta qualidade e design, de moda, casa e beleza.
A comunidade Fair Bazaar
A ideia da criação da Fair Bazaar começou por ser um site de e-commerce que juntasse centenas de marcas sustentáveis de moda, casa e beleza, através de uma curadoria rigorosa. Mas a procura falou mais alto e decidiram abrir em finais de 2017 uma loja no 1.º piso da Embaixada do Príncipe Real, em Lisboa. Para os consumidores esta é a oportunidade de adquirirem produtos de alta qualidade, que contribuem para o comércio ético e justo. A história dos produtores, a qualidade dos artigos e o design excecional são também a chave para a seleção das marcas parceiras.
O marketplace de compras online, a inaugurar por volta de março, pretende ser a referência na Europa para quem procura ter um impacto social e ambiental positivo. Pretende criar uma comunidade atenta e consciente, através de workshops, conteúdos educativos para o consumo responsável e uma agenda de eventos por toda a Europa – Lisboa, Londres, Paris e Berlim. As atividades serão em breve anunciadas nas redes sociais da Fair Bazaar: Facebook e Instagram.
Conversámos com Patrícia Imbarus, uma romena a viver em Portugal e co-fundadora da Fair Bazaar.
Entrevista
Como surgiu a ideia de criarem o conceito Fair Bazaar?
Procurámos marcas que fizessem as coisas da melhor forma. Ao início só encontrávamos marcas de moda. A procura começou por ser difícil. Mas um ano depois de fazer este trabalho de casa, ficámos a conhecer mais de 700 marcas espalhadas por toda a Europa.
E em Portugal?
Está a avançar. Este mercado está a crescer. Mas o que falta em Portugal é uma estrutura melhor para as pessoas se sentirem à vontade para investir nestes negócios. Lá fora há mais empreendedores sociais e não sentes que estás sozinho.
Percebemos que existem muitas marcas. O que não há: a disponibilidade das pessoas para procurar estas marcas. O que também não há é um marketplace só para produtos sustentáveis e não só de moda. Faz mais sentido criar uma one stop shop para uma vida sustentável. Foi assim que surgiu a nossa ideia.
Ter ideias parece o mais fácil. O difícil é concretizá-las. Como o conseguiram?
No inicio trabalhávamos à noite, porque continuávamos com o nosso emprego de dia. Agora não, já estamos 100% dedicadas ao Fair Bazaar. Tanto eu e como a Joana temos muita experiência em marketing e e-commerce.
Não fizemos a loucura de deixar tudo. É muito importante testar o mercado. Concorrermos ao Startup voucher e, em marco, decidimos deixar o nosso trabalho. Ganhámos este apoio por um ano e temos de justificar de 3 em 3 meses se está tudo a correr bem. Já estamos a chegar ao fim e até agora correu tudo bem. Esta foi uma grande ajuda e permitiu termos mais flexibilidade. Somos muito adeptas de investir o mínimo possível, optar por parcerias e trocarmos prestações de serviços. Para ter um negócio não se tem de investir muito dinheiro. Foi tudo muito estratégico e bem pensado. Fomos 100% honestas e transparentes com toda a gente. E este tipo de valores ajudou-nos a lançar o Fair Bazaar e a conquistar as marcas.
Entretanto, avançaram com a inauguração de uma loja física. Porquê?
No Greenfest abrirmos uma loja pop up que correu muito bem. Todas as pessoas e marcas ajudaram. Durante 4 dias vendemos imenso e toda a gente ficou apaixonada pelo projeto. Perguntavam onde era a nossa loja e não sabíamos o que responder, até porque a ideia inicial era só abrir a loja online. Mas ficamos com stock e lançámos o desafio de escoar os produtos. Agora vamos ver como corre. Se continuar a correr assim tão bem, vamos diversificando a oferta e dar a conhecer outras histórias de marcas. Até já estamos a pensar abrir uma segunda loja maior.
O ponto de partida inicial foi o marketplace online. Para quando o seu lançamento?
O website foi sempre o nosso grande projeto. Mas com tanta coisa em cima de nós não o conseguimos lançar no Greenfest. Como surgiu a ideia da loja, esta foi uma boa plataforma para ver o que as pessoas mais gostavam até lançarmos o website. Vamos conseguir lançar, de certeza, a partir de março.
Já temos mais de 60 marcas a trabalhar connosco. e cada semana vamos adicionando mais marcas e novidades.
E como escolhem as marcas?
A Fair Bazaar criou oito selos: Artesanal, Reciclagem, Comércio justo, Orgânico, Vegan, Desperdício zero, Pequena escala e Ecológico. É assim mais fácil saber a proveniência e o fabrico de cada produto.
Apesar de estarem sediadas em Lisboa, o objetivo é serem internacionais. Não têm muita concorrência?
Curiosamente não há nada semelhante. Apenas 3 ou 4 na Europa. Mas são muito focadas numa só área ou apenas numa língua. Não há um agregador como o Fair Bazaar. As pessoas têm preguiça de procurar. Para além de ser green e sustentável, temos outros critérios. Um design excecional, muita qualidade, histórias incríveis, sem impacto social ou ambiental e algo que crie desejo. Para nós a curadoria é muito importante. Encontrámos 700 marcas mas, se calhar, não vamos querer trabalhar com todas. Todas as peças são escolhidas a dedo.
E criar a marca Fair Bazaar?
Pensamos que talvez no próximo ano possamos criar uma marca nossa, com o nosso design, com materiais locais…
Quais são os vossos planos para o futuro?
O nosso objetivo não é só criar um site de e-commerce. É muito mais do que isso. Queremos criar um movimento de changemakers espalhado pela Europa, por Lisboa, Berlim, Londres, etc. A cada 2 ou 3 meses vamos criar eventos com painéis sobre sustentabilidade com especialistas locais, bem como workshops e palestras. Queremos criar relações com as populações locais nestas cidades. Nas conversas que temos tido com as pessoas, a ideia de sustentabilidade em Londres é diferente do que acontece em Berlim. Em Londres está tudo a consumir produção local e em Berlim estão mais voltados para o vegan.
Quais são as vossas marcas favoritas à venda na Fair Bazaar?
Cristiana Costa é a designer de uma marca nacional que gostamos muito, a Naz.
A marca portuguesa de sabonetes Casa Brava, do Algarve, em Loulé.
A marca portuguesa Nae Vegan Shoes é maravilhosa. Usam vários materiais para os sapatos, como a casca de ananás e o material de airbags.
Muito importante é o copo menstrual Organi Cup. Funciona mesmo. Eu faço surf e não tem nenhum problema. Este copo é de silicone e pode durar uma vida inteira. Custa 24 euros e não tem nenhum químico. Ajuda aplicar durante o duche. Só tem de o retirar de 12 em 12 horas. Se pensar que os tampões não são de algodão orgânico e que este é um material que colocamos dentro do corpo, na zona que mais absorve…
Gostamos muito também da Abury. De design exclusivo e com um impacto social positivo, as malas em pele são obra de artesãos do Equador ou de Marrocos e contribui para o comércio justo.
Usamos muito na loja pecas de mobiliário da marca nacional De Raiz, de um casal de Montemor que utiliza madeira desperdiçada que encontra na floresta. Não só limpam as florestas como criam pecas peças únicas e excecionais.
Agora vai ter de conhecer a loja da Fair Bazaar. Conheça também a nova loja favorita das it girls.