O trabalho de Fabiana Baumann começa com a escolha do tecido, em especial o poliéster reciclado (coleção Aquarelle) e a poliamida regenerada. O ECONYL®, criado a partir de redes de pesca recicladas e outros desperdícios geralmente encontrados no mar, está presente na coleção Noir. As produções são sempre feitas em pequenas quantidades e em edições limitadas. Este ano introduziu o Costume Made, que permite a Fabiana Baumann criar em exclusivo uma peça à medida. Fomos conhecê-la melhor.
Quem é a Fabiana Baumann?
A Fabiana Baumann é uma portuguesa, com dupla nacionalidade, formada em Comunicação. Actualmente a viver em Peniche, é hoje designer, costureira e uma mulher empreendedora. Cria peças num estilo bastante simplista e dá os primeiros passos em coleções mais sustentáveis.
Como surgiu a ideia de criar a sua própria marca?
A ideia não surgiu, mas os acontecimentos foram decorrendo sem quase me aperceber (às vezes a vida concerta-se). Depois de querer dar uma oportunidade a mim mesma de fazer algo que gostasse, comecei a costurar e apercebi-me que isso era algo que gostaria de fazer com frequência. Queria criar uma coleção toda em preto, porque tinha dificuldade em encontrar artigos básicos e tudo foi acontecendo a partir daí. Actualmente, e apesar do mercado de swimwear já ser bastante explorado em Portugal, não há ofertas sustentáveis. O conceito de slow fashion era algo que me interessava poder fomentar. A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo. Se puder contribuir para uma alteração de padrões, ainda que a uma escala muito pequena, é isso que quero fazer.
Depois de oito anos a trabalhar em comunicação, mudou completamente de vida. É mais feliz agora?
Sem dúvida. Nem todos os dias são fáceis, mas em todos eles me sinto mais feliz. Mais do que sentada nas minhas anteriores mesas de escritório. Embora as responsabilidades e os riscos sejam maiores, não há nada que se compare à motivação de acordarmos para fazer algo que gostamos e ao desafio de criarmos algo novo. Acho que descobri que podemos mesmo ser mais livres, se assim o entendermos.
E está estabelecida em Peniche, terra de surfistas e pescadores. Isso influencia as suas criações?
As nossas praias são inspiração para qualquer coleção, mas penso que os surfistas são pessoas que, em geral, se preocupam muito com questões ambientais. Querem ver as suas praia limpas e que a pouco e pouco se preocupam também mais com aquilo que vestem. Esta coleção está toda ela muito ligada ao mar, não só pelos artigos de praia em si mas pelo facto de o ECONYL® , componente do tecido com que trabalho, ser feito a partir de lixo do mar, inclusive de redes de pesca.
Onde encontra inspiração?
Para mim a grande inspiração somos nós mulheres. Gosto de me inspirar em mulheres de todo o mundo. Nas suas formas, na sua personalidade, no seu estilo – gosto tanto de me inspirar em mulheres clássicas, como em mulheres irreverentes. Tento brincar com esses dois mundos. Acho que enquanto houver mulheres, haverá inspiração, afinal somos seres extraordinários.
A nova coleção Noir é 100% sustentável. Como é que conseguiu esse feito?
Fiz uma grande pesquisa este inverno nesse sentido. Era uma coisa que queria mesmo poder introduzir. Trabalhar neste momento só com tecidos reciclados e, ainda mais, com tecido regenerado criado a partir de matérias-primas que já estavam no final da sua vida, é um objectivo que me orgulho de ter cumprido. O ECONYL® é uma poliamida regenerada, criada a partir de redes de pesca recicladas e outros desperdícios geralmente encontrados no mar. Embora pudéssemos pensar que este tecido poderia ser estranho ao vestir, foi uma grande surpresa para mim ver que a qualidade da Lycra é ainda muito melhor do que aquela com que tinha trabalhado. É a mais macia que alguma vez vi. Todos os motivos se juntam para, tanto eu, agora, como outras marcas, de futuro, comecem a trabalhar com opções mais sustentáveis. No meu caso, o facto de as peças serem criadas em atelier, e não em fábricas em grande quantidade, também me permite reduzir os desperdícios ao máximo. Tenho uma linha de custom made e lanço frequentemente edições limitadas. Ainda este ano tenho pedidos com tecidos do ano anterior; o facto de ser eu a criá-los permite-me isso.
Gostava de ter uma peça Fabiana Baumann feita só para si? Conheça ainda o projeto português da Fair Bazaar.