Como mulheres, tentamos continuamente encontrar o nosso lugar na sociedade, lutar contra o sexismo e defender a igualdade de género. No entanto, mesmo entre nós existem diferenças às quais nem sempre prestamos atenção.
Talvez nunca tenha notado na falta de representatividade que existe dentro do mercado de vestuário, na falta de sinónimos para o termo “cor de pele”. Elisabete Moreira, fundadora da Kacau, viu neste problema uma oportunidade: trazer igualdade para o mercado de lingerie português.
Desta vontade em acolher todas as mulheres como igual e com o objetivo de alterar o conceito do termo nude em Portugal, surge então a Kacau, a primeira marca portuguesa de roupa interior para mulheres de pele escura.
A Saber Viver esteve à conversa com criadora da marca, que nos explicou não só a necessidade deste produto no mercado português, como ainda todo o processo criativo, da ideia à confeção, e planos de expansão, entre tantas outras coisas.
Entrevista com Elisabete Moreira, fundadora da Kacau
Como surgiu a ideia de criar a Kacau?
Trabalhei 12 anos como assistente de bordo e sempre me debati com a inexistência de collants que se adequassem à minha cor de pele e que não se notassem.
A par dessa insatisfação, senti-me limitada em várias ocasiões em que precisava de roupa interior ou acessórios no meu tom e tinha de me conformar com o bege ou repensar um determinado look.
Até que, depois de alguma investigação, decidi criar a primeira marca portuguesa de vestuário a incluir outros tons de pele em artigos essenciais do universo feminino, começando pela lingerie.
Sentiu que não havia diversidade nos tons de lingerie em Portugal?
Basta ir a um centro comercial e visitar diferentes lojas de roupa interior ou mesmo grande marcas que vendem também roupa interior. Todos os artigos cor de pele (roupa interior, lingerie, tapa-mamilos, copas de silicone, collants, meias, etc) são bege. Cor de pele vai muito para além do bege.
Qual a ideia por detrás do nome da marca?
Foi o primeiro nome que me surgiu e é um nome feminino inspirado no fruto que está na origem do chocolate: o cacau. Kacau é uma mulher confiante, empoderada e inspiradora que, tal como o chocolate, pode assumir várias tonalidades.
Como descreveria as mulheres que a usam?
Mulheres livres, conscientes, que sabem o que querem e lutam por isso. Mulheres que dão importância aos pormenores e querem sentir-se bonitas e confortáveis no seu dia a dia.
Que mensagem procura passar através da marca?
Uma mensagem de inclusão, amor e respeito. Porque todos os tons de pele e todas as formas de corpo merecem ser vistos e celebrados. A indústria da moda é particularmente penalizante para as mulheres, com ideais ultrapassados e que não representam a nossa essência.
A nossa missão passa também por deixar um legado de união e poder feminino que possa perdurar ao longo de gerações. Além de “ressignificar” o conceito de cor de pele, a Kacau quer contribuir para democratizar, expandir e “ressignificar” o conceito beleza, deixando cair os rótulos e caixas a que estamos habituados. Para nós, beleza é o poder pessoal e a confiança de cada mulher, e isso transcende a sua aparência.
A Elisabete tem um background em comunicação. O que a fez percorrer este caminho até ao mundo da moda?
O que me fez entrar no mundo da moda foi essencialmente a mensagem que quero deixar no mundo e a vontade de contribuir de alguma forma para torná-lo um lugar ainda melhor. Quero usar a comunicação para empoderar, despertar consciências e servir o próximo através de uma marca-causa que está também alinhada com a minha essência feminina.
Na coleção só apresentam conjuntos de cueca e sutiã. Tem perspetiva de alargar as opções?
Sem dúvida que sim! Há um vasto universo por explorar de artigos que são essenciais em vários tons de pele e que neste momento são maioritariamente comercializados em bege. Precisamos romper com essa limitação e incluir outros tons para que possamos ter uma indústria, e um mercado, mais igualitário e representativo.
A marca é exclusivamente produzida em Portugal? Que tipo de materiais usam para as peças?
Sim, as peças da Kacau são produzidas exclusivamente em Portugal e incluem materiais portugueses, como é o caso da renda que compõe toda a coleção DIVA ou do algodão que também é nacional.
A coleção MUSA é feita em malha clean cut para garantir um efeito confortável de segunda pele. Usamos também outros materiais para oferecer o melhor suporte como é o caso do powertule e da chermeuse.
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Como é que conseguiram identificar os tons que correspondiam às necessidades e procura do mercado?
Além de termos feito um estudo de mercado, pesquisamos e fomos conhecer outras marcas internacionais que já tinham realizado também esse estudo. Depois de percebermos as tendências, testámos exaustivamente cada um dos tons até chegarmos ao Kacau 25, Kacau 35, Kacau 65 e Kacau 85, os nossos quatro tons inspirados nas percentagens de cacau.
Apresenta duas coleções distintas: a DIVA e a MUSA. Pode explicar-nos a diferença entre ambas e o que trazem de novo?
A coleção MUSA é a nossa linha mais confortável, pensada para o dia a dia, por ser em malha clean cut e dar um efeito de segunda pele.
A DIVA é a nossa linha mais arrojada e é marcada pela renda portuguesa. Quisemos criar duas coleções que representassem a dualidade feminina: o nosso lado mais delicado e o nosso lado mais ousado.
Para que países é que vendem?
Vendemos para todo o mundo. Queremos aproximar-nos especialmente da nossa comunidade lusófona que está espalhada um pouco por todo mundo, mas sobretudo na Europa, África e Brasil.