Made in Portugal: os padrões de Sofia Alves, da tela para o mundo

Made in Portugal: os padrões de Sofia Alves, da tela para o mundo

Viajou pela Ásia, por África, pela Europa e fixou-se num atelier na Mouraria, em Lisboa. Já podemos ver os seus trabalhos em diferentes formatos, que vão de cadernos, a biquínis ou objetos de decoração. Os padrões de Sofia Alves já estão em todo o lado. E são Made in Portugal.

Por Ago. 7. 2017

Uma das maiores frustrações de Sofia Alves prendia-se com as limitações que a tela lhe impunha. O grande quadrado branco forçava-a a restringir-se a um tamanho e a um espaço. E aquilo que a artista mais queria era transpor esta superfície: desejava que as suas criações, os seus padrões, fossem palpáveis e que estivessem presentes no objetos mais comuns do dia a dia.

Viajou pelo Brasil, pela Ásia, por África. De todos estes sítios trouxe valiosas aprendizagens que a inspiram todos os dias. Formou-se em Design no IADE, mas os estudos continuaram no Reino Unido, onde concluiu o mestrado em Design Têxtil. Passou outra temporada no atelier de Filipe Faísca, onde estagiou como sua assistente.

Hoje senta-se na incubadora de artes criativas, o Centro de Inovação da Mouraria, e é dona da sua própria marca – Sofia Alves Design. Viu, aos 26, o seu desejo concretizado: através de coleções próprias, ou de parcerias com outras marcas, os coloridos padrões que cria passeiam na rua, nas praias ou ficam em casa, na forma de biquínis, lenços, cadernos,  tapetes, T-shirts e muito mais.


Sempre adorou pintar e criar. Porque é que escolheu o Design e não as Artes Plásticas?

A pergunta é engraçada, porque a minha primeira escolha sempre foi Artes Plásticas. Acho que, por medo, não segui esse caminho. Escolhi Design, porque achei que podia dar-me mais oportunidades profissionais.

Os padrões de Sofia saíram das telas e estão em todo o lado: roupa, cadernos, artigos de decoração.

 

A verdade é que quando terminei o curso senti uma certa insatisfação artística. Senti que era limitado do ponto de vista da componente criativa. A sorte de trabalhar por conta própria está na possibilidade de experimentar e explorar imensas técnicas e materiais.

Estagiou com o estilista Filipa Faísca. Qual foi a principal lição que retirou desta experiência?

O Filipe é um grande trabalhador. Além do talento incrível, a maior e melhor lição que trouxe comigo deste tempo passado com ele é que a persistência, a humildade e trabalho devem sempre persistir ao longo de toda a carreira, mesmo e principalmente depois do sucesso.

Também percorreu o Sudeste Asiático e ainda passou por São Tomé. Trouxe algum tipo de inspiração destas viagens?

A viagem ao Sudeste Asiático teve um enorme impacto no meu caminho: a inspiração cultural e artesanal, riqueza de cores e pormenores, e, principalmente, o trabalho manual criado de forma paciente.

O estúdio de Sofia Alves, na primeira incubadora de artes criativas, o Centro de Inovação da Mouraria.

 

Em São Tomé tiveram lugar as minhas primeiras criações. Os meus primeiros padrões. Foi o sítio onde realmente decidi e percebi aquilo que queria fazer. Num país onde há falta de muito, existe sempre espaço e tempo para a cor. Foi onde percebi a verdadeira importância e o impacto da arte em nós e no espaço.

De onde é que vem a paixão por padrões?

A minha paixão está, acima de tudo, em pintar. Gosto de preencher espaços e vazios com cor e formas. Sempre achei que as telas, de alguma maneira, eram limitativas – cingem-se a um tamanho e lugar – e que o incrível seria poder transpor as minhas pinturas para o nosso dia a dia, não só para poder ver, mas para usar, sentir, vestir. Os padrões são uma adaptação disso mesmo: poder tornar real e palpável aquilo que pinto e crio.

Aqui podemos ver um padrão de Sofia Alves na marca de biquínis portuguesa Aumar.

Como se desenrola o processo para se criar um padrão?

Não existe, propriamente, um ponto de partida, a não ser uma ideia base, muito vaga. À medida que vou criando e pintado, o padrão vai sendo criado por si, sem que eu imponha ou force um caminho, tanto a nível da escolha de cores como das formas.

Quais é que são os elementos que os conectam?

Todos os padrões são pintados à mão. Numa segunda fase, são transformados em formato digital para que possam ser enviados aos clientes. Os padrões que crio podem ser aplicados nas mais diversas superfícies, mas, para cada aplicação ou objeto, existe uma diferente escolha de cor, escala, material, tendo também em conta o público alvo que quero atingir. Os padrões têm uma importância e influência enorme em tudo, mesmo que as pessoas não se apercebam disso.

Onde é que podemos encontrar os padrões de Sofia Alves?

Os padrões já conseguem ser encontrados em diferentes áreas. Estão em marcas de biquínis (AumarHinna e Nanai), chapéus (Elizab’hats), capas de cigarros (YouCover), roupa e têxtil (Cre.eight) e até estamparias internacionais (Print & Press London).

Em que momentos é que se orgulha mais do seu trabalho?

No momento em que reconheço os meus padrões na rua.

Até onde é que gostaria de chegar?

Para já, não existe um caminho completamente delineado, existe só uma vontade de trabalhar com mais e mais marcas e de continuar a experimentar. Quero que as pessoas gostem daquilo que pinto. Quero que sintam aquilo que faço!

Que mensagens é que quer deixar aos artistas que procuram espaço para divulgar os seus trabalhos?

Que procurem, conversem, conheçam. Não há limites no que toca à possibilidade da exposição do nosso trabalho. Com persistência e vontade, conseguimos encontrar reconhecimento e um espaço nosso. O mundo artístico é, evidentemente, complicado e complexo e a diferença está sempre na nossa ligação com os outros. Se a conseguirmos, já estamos mais perto. A criatividade está sempre a nosso favor.


 

Já conhecia os padrões de Sofia Alves? O que é que achou da entrevista?  Conheça ainda Márcia D’Orey, a mãe que faz sucesso nas Instastories.

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