* Na rubrica #PowerWorkGirls reunimos histórias de mulheres empreendedoras que todos os dias nos inspiram a perseguir os nossos sonhos. Mulheres que arriscaram sem medos, que trocaram o futuro por presente e o sonho por realidade, e iniciaram assim um árduo caminho em busca da felicidade, realização e reconhecimento.
Aos 32 anos, Maria de Barros já viveu em três países. Partiu de Lisboa com o marido, o jogador de futebol Pizzi, com quem mantém uma relação há cerca de 16 anos e partilha dois filhos, e rumou à Turquia. Há pouco tempo, mudou-se de novo, desta vez para Abu Dhabi, mas não deixa que estas transições a impeçam de atingir as suas metas.
Licenciada em Engenharia Civil, mas com uma enorme paixão pela moda, a empreendedora, e também influencer, lançou a sua própria marca de calçado há cerca de um ano.
De seu nome Strelitzia, esta conta já com várias coleções que incluem tanto sapatos de salto alto, como rasos, botas e botins. Mas os planos não acabam aqui.
Em conversa com a Saber Viver, Maria de Barros explica-nos como surgiu este projeto, como é a vida num novo país e quais os seus planos para o futuro. Descubra tudo.
Entrevista a Maria de Barros
Lançou, há cerca de um ano, a marca de calçado Strelitzia. Como surgiu este projeto?
Eu tinha uma loja de roupa multimarcas com uma amiga há alguns anos e sempre esteve em cima da mesa a ideia de ir para frente com uma marca nossa. Não se chegou a concretizar e eu, na altura, pensei em fazer uma linha de roupa só minha, mas acabei por não ter vontade de ir para a frente com o projeto. Depois, durante a pandemia, como estávamos em casa, resolvi tirar um tempo para pensar acerca da ideia de fazer alguma coisa. E na altura, os sapatos, não sei porquê, fizeram mais sentido do que roupa.
Não sabia o que é que poderia criar mais que fosse diferente do que já existia no mercado. Virei-me então para a parte do calçado, muito porque também desde que fui mãe deixei de usar saltos altos como usava antes.
Senti que o mercado precisava de uma marca que acompanhasse as tendências atuais da moda, mas que oferecesse conforto, para que as mulheres pudessem usar aquilo que efetivamente querem e aquilo que gostam sem se sentirem, por assim dizer, retraídas. Criei então uma marca com coleções duradouras, com calçado que se possa usar durante todo o ano.
Porquê o nome Strelitzia?
Eu tenho muitas strelitzias (estrelícias) no jardim porque é uma das minhas flores preferidas. Quando estava à procura de um nome para a marca pensei em pôr o meu nome e em tantas outras coisas, mas nada fazia muito sentido, e também não queria que ficasse associada só a mim. Foi quando olhei para o jardim e pensei “porque não?”.
Como é que a marca foi recebida pelo público?
Tem sido muito positivo. O lançamento correu muito bem, nem estava à espera que a marca fosse tão bem recebida. No entanto, devido ao que estamos a atravessar desde a pandemia, sinto que é muito complicado levar uma marca para a frente. Tem de se investir bastante para ir mais além, e nesse sentido é um pouco complicado. Porém, aos poucos tudo corre bem, com os pés bem assentes na terra, um passo de cada vez. As primeiras clientes voltam a comprar as coleções que vão saindo, o que é um excelente feedback. É sinal de que usam efetivamente os sapatos, reconhecem o valor e o conforto dos mesmos.
Sente que a sua presença no digital ajudou a lançar a marca?
Eu, para já, sinto que a marca ainda não chegou ao público alvo do Instagram, que é a rede social que mais utilizamos para fazer publicidade. Sinto que as clientes que nos seguem não são as que nos partilham fotos. Usam os sapatos efetivamente, mas não partilham tanto nas redes sociais. No entanto, temos muito feedback por mensagem, de clientes que estão satisfeitas com o produto e que o usam diariamente. Mas ainda temos muito para crescer.
Acredito que o meu posicionamento pode ter ajudado, porém, também sinto que estou muito posicionada no mundo do futebol devido à profissão do meu marido. E não são as pessoas que me seguem desse mundo que me compram sapatos. Por isso, acaba por ajudar, mas ao mesmo tempo acaba por não influenciar diretamente.
Onde vai buscar inspiração para as coleções?
Demora algum tempo. Tenho de me concentrar e pensar bem sobre qual será o foco daquela coleção específica, quais serão as cores, etc.. Nós andamos um ano atrás com as coleções e sinto que ainda tenho alguma dificuldade nessa parte, porque não sou designer.
Fiz um curso online de design de sapatos para me ajudar no início, mas não tenho formação em moda. Também tenho um pequeno curso de consultoria de imagem que tirei quando cheguei a Lisboa, mas sou licenciada em Engenharia Civil, portanto essa parte de pesquisa é a que gosto mais, mas também é a mais desafiante.
De que forma conseguimos ver a sua identidade na sua marca?
Eu acho que todas as coleções são a minha cara. Gosto muito dos tons neutros, dos nudes, do branco e do preto, então tento guiar-me por aí. Para a coleção de verão, por exemplo, fui buscar as cores da strelitzia, para as pessoas associarem à marca. Olhando já para as restantes coleções, sinto que tenho sempre presente o ‘menos é mais’, que é algo que também me caracteriza.
Agora tenho um desafio, que é sair um pouco da minha zona de conforto e criar não só aquilo que eu usaria, mas aquilo que as outras pessoas também usariam e que eu se calhar não estou tão confortável. Quero abrir a minha mente como designer da marca e procurar utilizar mais cor, por exemplo.
Quão importante é o conforto no processo criativo?
As fábricas que trabalham com a marca têm-me ajudado nesse processo. Acho que é o trabalho mais importante, pois são eles que, a nível de conforto, conseguem montar o modelo que eu desenhei. E efetivamente, quando experimentamos, sentimos esse conforto ao pôr uma palmilha específica na zona do calcanhar ou na parte de baixo do pé, ou pela altura e estabilidade do salto, ou até pelo material usado.
Tentamos sempre, por exemplo, colocar tiras que sejam almofadadas e mais grossas para não magoarem os dedos. Acabamos então por, juntamente com a fábrica, criar um modelo que seja o melhor possível, quer para nós, quer para o consumidor.
Mudou-se recentemente para Abu Dhabi. Como tem sido essa experiência?
O primeiro mês foi complicado, mas é sempre. As mudanças são sempre difíceis, é preciso um período de adaptação. Mas agora já está tudo mais estável. É um pouco complicado gerir a parte dos horários, pois temos três horas de diferença para Portugal. No entanto, é tudo uma questão de hábito, e a partir do momento que temos as nossas rotinas acaba por ser mais fácil.
Claro que temos saudades de casa, mas também é uma experiência boa para nós e para as crianças, que nos vai trazer de certeza muitas coisas boas. É nisso que tenho que me focar e quem sabe, ganhar aqui inspiração para outra coleção.
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Como lida com as diferenças culturais?
No dia a dia não sinto que haja nada que interfira diretamente com a nossa vida. Abu Dhabi é um pouco mais conservador em termos de religião, mas não nos afeta diretamente. É uma questão de respeito por parte de todos.
Com a sua marca quer empoderar mulheres a conquistar o mundo com os sapatos certos. Que conselhos de autoestima tem para as nossas leitoras?
Não duvidar de nós mesmas e tentar acordar todos os dias a acreditar no nosso valor e que conseguimos fazer tudo. Nós queremos empoderar a mulher no dia a dia a ser aquilo que é, na versão em que se sente mais confortável, seja essa qual for. Todas temos várias versões de nós mesmas.
Tanto a nível pessoal, como profissional, quais as suas perspetivas para o futuro?
Essa é uma pergunta difícil porque temos pensado muito nisso. Quer eu, quer o Pizzi sabemos que a vida de jogador de futebol é curta, então temos muitas coisas em cima da mesa. Para mim, neste momento a Strelitzia é o meu bebé e que eu quero muito que cresça e vá para a frente. E é nisso que estou focada agora.
O que é para si saber viver?
Saber viver para mim é aproveitar cada momento ao máximo, na sua plenitude, e não estar a pensar noutras coisas. Se vamos estar a pensar no “e se” ou no amanhã, acabamos por não aproveitar o presente. Acho que isso é saber viver, viver cada dia, cada momento e aproveitar aquilo que temos e nos é dado.