A nova artista dos chinelos mais famosos do Brasil quer viver em Portugal

A nova artista dos chinelos mais famosos do Brasil quer viver em Portugal

Tudo no seu trabalho é cor e natureza – e alegria. Naia Ceschin colabora com a Havaianas para o projeto Retratos do Brasil, onde mostra o melhor do seu país de origem. A Saber Viver falou com a artista.

Por Abr. 13. 2018

Passavam poucos minutos das 15 horas quando nos encontrámos com Naia Ceschin, de 29 anos, num hotel em Lisboa para falarmos sobre o seu mais recente trabalho. A designer gráfica e ilustradora é natural de São Paulo, Brasil, é adepta de elementos naturais e orgânicos, e contou-nos no que se inspirou para criar os dois pares de chinelos para Havaianas, um modelo feminino e outro unissexo.

‘Retratos do Brasil’ é o nome da segunda edição do projeto de arte da marca que quer dar a conhecer o melhor do país da América do Sul ao resto do mundo. Este ano, é através dos olhos de Naia que isto acontece.

A Saber Viver esteve à conversa com a artista, que adora fotografar e olhar para os estendais das janelas enquanto passeia por Lisboa – uma mania que herdou da mãe. Um dos seus desejos? Viver em Lisboa no futuro.

 

“Adoro andar pelas ruas [de Lisboa] e ver os azulejos e os padrões. Herdei algo da minha mãe: ver os estendais da roupa. Acho incrível. A minha mãe fotografa imensos e eu faço o mesmo”

© Havaianas

À conversa com Naia Ceschin

Como surgiu esta parceria com as Havainas? Quais foram as suas inspirações?

Recebi o email da Havaianas e fiquei super feliz. Deram-me um briefieng que dizia que queriam umas artes que retratassem o Brasil, uma vez que o projeto se chama ‘Retratos do Brasil’. Acho que o meu trabalho já sofre muita influência da flaura e flora brasileira, da biodiversidade e da mistura que há no Brasil. Foi tudo muito natural. Foi um caminho que já me interessava e que aproveitei fazê-lo para este trabalho. Para os desenhos, o processo foi envolver bastantes cores, contrastes, elementos orgânicos e geométricos. E esta é uma mistura muito presente no Brasil. Somos influenciados por milhares de coisas: cultura portuguesa, indígena, africana… Essa mistura interessava-me há algum tempo e já uso misturas de vários elementos no meu trabalho.

À esquerda: modelo feminino, 25,90€. À direita: modelo unissexo, 21,90€

A que celebridades ofereceria estes modelos?

Acho que teria de ser a um brasileiro, a alguém que fosse super famoso. A Gisele Bündchen, por exemplo. Ela é muito forte no mundo inteiro, tem raízes brasileiras…

Leva sempre Brasil e São Paulo para o seu trabalho?

Sim. Acho que o Brasil, como um todo, influencia muito. Foi onde nasci, onde tudo aconteceu desde o começo. A natureza do Brasil, a biodiversidade – e eu viajo muito pelo Brasil! – acho que influenciam muito. Mas sofro influências de outras culturas também. Há uma mistura de motivos no meu trabalho, há algumas estampas e pinturas que se referem aos padrões africanos, outros indígenas. Acho que isso são inspirações que vou tendo nestas viagens. As inspirações chegam de todos os lados – da internet, de viagens, da nossa casa – que acho que o processo criativo filtra tudo isto e acaba por sair algo. Quando vou desenhar, não estou muito preocupada em explicar o que desenhei, mas sim em entender o que foi desenhado.

[A floresta Amazónica] É um tesouro que temos que tratar como se fosse a coisa mais valiosa que temos, e isso não acontece. Há muita gente que mora lá que está a lutar contra a desflorestação

Porque é que a natureza tem uma influência tão grande no seu trabalho?

Boa pergunta! Acho que sempre me interessei em viajar para lugares onde a natureza fosse muito forte, e eu própia também sou muito fã de natureza, é algo que me tira o fôlego. Luto para que seja preservada porque tenho um carinho grande. Faço alguns trabalhos para superfícies brasileiras em que utilizo materiais naturais, como folhas que pego do chão. Consigo pegar em algo natural e fazer um trabalho, como se lhe desse continuidade. Não deixo a natureza morrer e dou-lhe uma continuidade. Faço trabalhos com madeiras descartadas. É uma questão de preservar e tentar manter esses materiais vivos.

A Naia é uma grande defensora dos animais, do meio ambiente e de causas sociais. O que é que falta mudar no Brasil a estes níveis?

Muito! Acho que o povo brasileiro está cada vez mais consciente do tema preservação. Ainda falta muito e há muita gente a lutar, mas, por exemplo, temos 60% da floresta Amazónica no Brasil, e é a floresta com a maior biodiversidade do mundo. Isto é um tesouro que temos que tratar como se fosse a coisa mais valiosa que temos, e isso não acontece. Há muita gente que mora lá que está a lutar contra a desflorestação. Podemos começar a mudança no nosso dia a dia, nas coisas que usamos e comemos. A mudança vem daí.

Até hoje, qual foi a peça que mais lhe deu prazer criar?

É difícil… Fico muito apegada aos quadros que pinto. Eles vão-se embora e nunca mais os vejo [risos]. Peço sempre uma foto ao cliente quando já estiver colocado no lugar. O meu maior apego é a estes trabalhos únicos, que nunca mais vejo. Há quadros com os quais fico triste por vê-los sair do atelier. Quer dizer, fico feliz, mas ao mesmo tempo triste…

Se o mundo pudesse ser decorado a padrões, quais é que utilizaria?

Acho que ia cansar, mas adoro repetições! Aqui [Lisboa] é um lugar super inspirador, por causa dos azulejos, dos pisos, para mim é incrível! Uma cidade decorada assim é maravilhosa. De repente vemos uma porta incrível, algo colorido, e isso deixa-me animada. Acho que o mundo com mais detalhes coloridos, repetições, seria incrível.

Conheci uma praia incrível, a Ribeira do Cavalo, parece a Tailândia. Gostava também de visitar o Algarve e o castelo [dos Mouros] em Sintra.

Os seus pais têm uma casa em Portugal. Costuma vir cá muitas vezes?

Há três anos que os meus pais têm casa cá e venho a Portugal desde essa altura. Eu quero morar aqui! Conheci uma praia incrível, a Ribeira do Cavalo, parece a Tailândia. Gostava também de visitar o Algarve e o castelo [dos Mouros] em Sintra.

Quais são os locais que mais adora em Lisboa?

Adoro andar pelas ruas e ver os azulejos e os padrões. Herdei algo da minha mãe: ver os estendais da roupa. Acho incrível! A minha mãe fotografa imensos e eu faço o mesmo. Agora passo e presto muita atenção, é muito particular, algo muito privado, e está lá, para todos verem.

Onde gostava que a sua carreira chegasse?

Acho que poder trabalhar no que gostamos e conseguirmos sustentar-nos é maravilhoso. Eu pretendo continuar neste caminho, de ter o meu trabalho como a minha única fonte de rendimento e poder fazer projeto e parcerias enquanto der. A minha criação individual continua – dos quadros, das pinturas e das peças naturais -, mas também quero poder fazer parcerias e imprimir o meu trabalho noutras superfícies. O chinelo, por exemplo, foi incrível! O quadro deixa de se ver, já os chinelos toda a gente usa. Ter este balanço é incrível.

 


 

Já conhecia Naia Ceschin? Veja o seu trabalho completo no site da artista.  Saiba ainda as peças de primavera que tem de ter no armário.

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