Já todos certamente sentimos diversas reações do nosso corpo a situações de stresse. A ansiedade é uma resposta natural, e até útil, do nosso sistema nervoso a estes momentos. No entanto, quando esta resposta é desadequada à situação e o nível de ansiedade é elevado durante longos períodos de tempo, os sintomas físicos começam a ser evidentes e podem até dificultar o nosso quotidiano.
“A ansiedade é uma reação normal e necessária que todos nós experienciamos perante algumas situações do dia a dia, quando existem expectativas relativamente a datas importantes, entrevistas de emprego, vésperas de exames, exames de saúde entre outras”, explica Cristiana Pereira, psicóloga na Oficina da Psicologia.
“Apesar de não ter a mesma causa para todas as pessoas, alguns fatores podem ser comuns: pensamentos disfuncionais e que normalmente as pessoas não conseguem avaliar se são verdadeiros ou não devido ao tempo em que esses pensamentos negativos são interiorizados; fatores ambientais, como pressão no trabalho e situações familiares. Estes fatores podem gerar uma preocupação constante a ponto de evoluir de uma ansiedade comum e natural para uma perturbação”.
A ansiedade é o distúrbio mental mais comum na Europa, segundo o Instituto de Métricas de Saúde e Avaliação. O mesmo instituto estima que cerca de 25 milhões de europeus sofram do problema.
Já em Portugal, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) aponta que 18,4% da população sofra de doenças mentais, entre elas a ansiedade.
O nosso instinto de luta ou fuga
Se do ponto de vista psicológico a ansiedade nos torna mais nervosos, irritáveis e com dificuldade em relaxar ou concentrar, os sintomas físicos são também um fator determinante para quem sofre deste distúrbio.
Perante uma situação de stresse, o nosso corpo recorre a mecanismos de combate, explica à Saber Viver Francisco Regel, médico interno de formação geral. “Entramos num estado de luta ou fuga, em que o nosso corpo ativa mecanismos de defesa (através da ativação do sistema nervoso simpático) e foram esses mesmos mecanismos que permitiram a evolução da nossa espécie, permitindo-nos antecipar o perigo e reagir da forma mais adequada.”
E é esta mesma reação que está na origem dos sintomas físicos da ansiedade. “O que acontece na ansiedade é que desencadeamos esta reação perante situações que não são ameaçadoras. O medo transforma-se em ansiedade e temos uma reação exagerada e desproporcional face ao estímulo.”
Conhece a expressão sofrer por antecipação? É esse o efeito que a ansiedade tem em nós, tal como nos explica Cristina Pereira. Os sintomas físicos são acompanhados de pensamentos “associados a situações futuras, uma construção nossa sobre antecipação de um perigo que podemos viver no futuro. É o que chamamos de sofrer por antecipação, quando nos preparamos para um determinado cenário, ainda que este só exista na nossa imaginação”.
A psicóloga clarifica que não há uma causa exata para a ansiedade e que os sintomas são diversos. Sendo que “cada pessoa é única, por isso, as suas experiências e os gatilhos não podem ser generalizados. Para alguns, a ansiedade pode surgir com um aperto no peito e para outros começa com o batimento cardíaco acelerado.” E estes exercícios podem ajudar a acalmar os picos de ansiedade.
7 sintomas físicos da ansiedade
Num quadro de ansiedade, ouvir o nosso corpo torna-se ainda mais importante, já que este traduz o que estamos a sentir.
Esta resposta tem uma explicação biológica, tal como nos explica Francisco Regel. “Perante um estímulo externo, o sistema nervoso simpático é ativado e há uma grande libertação de hormonas na nossa circulação que ativam o sistema de luta ou fuga. Isto vai desencadear sintomas físicos, que não são mais do que uma preparação do nosso corpo para o ‘perigo’“.
Fique a conhecer alguns dos sintomas físicos mais comuns da ansiedade e a sua explicação por Francisco Regel.
1. Taquicardia e palpitações
O coração a acelerar ao ponto de sentirmos que nos vai sair do peito é um dos sinais mais comuns de um ataque de ansiedade. ”
Isto acontece porque os nossos batimentos cardíacos aumentam para fazer chegar sangue ao nosso corpo mais rápido, pois pode ser necessário numa situação de fuga”, explica o médico.
2. Aperto no peito
Muitas vezes sinónimo de angústia, a sensação de aperto no peito está relacionada com a tensão muscular muitas vezes associada à ansiedade.
“Os músculos ficam mais tensos, para garantir que vão reagir rápido em caso de necessidade. Isto é válido para todos os músculos, incluindo os músculos intercostais, que se contraem para ajudar os pulmões a insuflar mais rápido. Mas às vezes, essa tensão é tanta, que origina um aperto no peito”.
3. Falta de ar
Aquela sensação de não conseguir respirar quando está a viver um momento de grande ansiedade tem uma explicação.
“Graças ao aumento da frequência respiratória, na tentativa de os pulmões receberem oxigénio mais rápido, vamos receber mais oxigénio, mas vamos também libertar mais dióxido de carbono e provocamos um desequilíbrio respiratório, que se manifesta pela sensação de falta de ar”.
4. Dormência e formigueiros
“A hiperventilação e consequente aumento dos níveis de oxigénio podem provocar sensações de dormência e formigueiro, principalmente nos membros. Além disso, como neste estado estamos muito mais atentos a todas as sensações do nosso corpo, por vezes sentimos mais pequenos formigueiros e dormências normais, que podem acontecer devido a uma má postura, por exemplo”.
5. Suores frios
“A libertação de hormonas de stresse faz com que a produção de suor nas glândulas da cara, mãos, pés e axilas aumente; e faz ainda com que os vasos sanguíneos da pele se contraiam, de modo a canalizar o sangue para os músculos. Esta redução no fluxo de sangue da pele faz com que a temperatura desça e provoque os suores frios”.
6. Náuseas e vómitos
A relação entre o intestino e o cérebro já é conhecida e estudos apontam como este pode ter um papel importante na nossa saúde mental.
Náuseas, vómitos ou problemas como prisão de ventre são sintomas recorrentes dos estados de ansiedade. Isto deve-seo à “elevada libertação de hormonas nestas situações de stresse, as quais podem, para além de náuseas e vómitos, causar distúrbios do trato intestinal”.
7. Insónia
Noites mal dormidas são normalmente sinónimo de preocupação, mas no caso de quem sofre de ansiedade, as insónias podem ser uma situação recorrente.
“O estado de permanente alerta do nosso corpo faz com que não consigamos dormir, pois o corpo tem que estar preparado para o caso de precisar de fugir ou lutar”.
Os sintomas de ansiedade podem escalar para um ataque de pânico?
A resposta é: sim. “Os sintomas de um estado de ansiedade podem agravar-se e escalar para um ataque de pânico”, explica a psicóloga Cristiana Pereira.
“A experiência é tão aterradora que, rapidamente, a pessoa começa a preocupar-se, de uma forma persistente, com a possibilidade de ter uma nova crise – o medo do medo – ou de lhe acontecer algo terrível na sequência de um ataque de pânico: como morrer, enlouquecer ou perder os sentidos”, desvenda a especialista.
O que é um ataque de pânico?
De acordo com a plataforma encontreumasaida.pt, um ataque de pânico “é uma resposta exagerada do nosso corpo ao medo ou ao stresse. De repente somos invadidos por um conjunto de sensações intensas como o batimento rápido do coração, sensação de desmaio, suores, náuseas, dores no peito, dificuldade em respirar ou sentimento de perder o controlo. Podemos pensar que estamos a enlouquecer, a desmaiar ou a ter um ataque cardíaco. Podemos até ficar convencidos que vamos morrer, o que torna esta experiência ainda mais aterrorizante”.
O site disponibilizado pela Ordem dos Psicólogos tem como objetivo esclarecer os diversos distúrbios da saúde mental, bem como localizar ajuda em todo o País.
Para quem sofre de ataques de pânico, a psicóloga recomenda a busca de tratamento adequado, no qual a psicoterapia tem um papel fundamental.
“O objetivo será eliminar os sintomas dos ataques de pânico, permitindo à pessoa retomar as suas atividades diárias. Trata-se de um tratamento muito interventivo: técnicas para serem praticadas, conhecimentos sobre fisiologia que devem ser apreendidos, uma reaprendizagem sobre a forma como o corpo fala connosco, alguns reajustes em determinados aspetos da vida da pessoa, tarefas para serem cumpridas”, esclarece.
Sente-se mais ansiosa do que o habitual?